Kinoshita

Fui convidada pelo Murakami-san para conhecer o Kinoshita. Minha mãe fez uma sacola de coisinhas aqui da horta para levar. Não riam, é um hábito dela e, creio eu, muito japones. E creio que agradou o chef, que ficou entusiasmado com o verdinho fresco. Cheirou, provou folhas e disse que iria usa-las no mesmo dia. Enquanto isso, lá estava eu bem instalada junto ao balcão. Confesso, como cozinheira, estou mais acostumada a servir que ser servida.  Isso é jequice, eu sei. Fico constrangida.

E foram-me servindo. Primeiro, cogumelos salteados com um toque de shoyu, de um jeito que eu gosto muito. Depois, beringela, um tomate suculento e adocicado, tofu frito que absorveu um dashi delicado, com brotos de nabo e lascas de bonito seco. Para quem não conhece o katsuo-bushi, ele é o alimento mais duro do planeta; só cortando em lâminas finissimas. E o sabor é tão peculiar quanto intenso.

O pacotinho de alga kombu, servido com ovas de salmão que explodem na boca e um molho adocicado. Enquanto eu sentia todo o sabor de mar que essa alga tem, meu amigo explicava sobre a colheita de algas e a quantidade de mucilagem contida nelas.

Depois, um atum selado, acompanhado de um molho à base de pasta de soja, levemente picante, cebolinha e sal negro. A geminha de ovo de codorna era para ser misturada na hora ao molho.

E a cozinha é toda aberta. A comida era feita à minha frente. Tudo muito organizado, discreto, mas ao mesmo tempo descontraído. Murakami-san estava ocupado, mas do outro lado do salão perguntou o que eu estava achando da comida sem hondashi e aji-no-moto. Vieram os sushis de atum, salmão, robalo, polvo e vieira.

Quando serviram o salmão, Murakami-san veio me contar que é uma receita da avó dele: salmão marinado no misso e borra de sake (sake kasu). A primeira coisa que me veio à cabeça foi: Hokkaido. Coincidentemente, terra natal do chef e do meu pai. Só que eu não conheci minha avó. Saboreei a pele crocante. Para mim, esse era um terreno bem seguro: peixe, missoshiru e arroz.

De última hora, um mimo: vieira com alho negro, gema de ovo de codorna e um micro tempura ultra crocante.

Da sobremesa, não tirei foto porque tive medo que o sorbet derretesse.

Conversei um pouco com o Murakami sobre ingredientes, umas idéias meio loucas, demos risadas. O fato é que Murakami-san é um grande anfitrião, uma figura carismática e um apaixonado pelas coisas boas da vida – sejam elas ingredientes, música, piadas – e isso influencia todo o ambiente do restaurante.

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11 Responses to Kinoshita

  1. Edu diz:

    Jequice nada, Marisa! Levar o que voces tem de melhor, e uma honra pra qualquer um que seja educado, eu penso assim. Ah, e um dia eu quebro o porquinho pra ir nesse restaurante!

    • Marisa Ono diz:

      Edu, eu não tenho o hábito de frequentar restaurantes desse nível, principalmente porque não estou podendo mesmo. Mas curti muito, os detalhes da louça, da cebolinha cortada fina feito um fio de cabelo, o atendimento, enfim, tive minha horinha de princesa mesmo. Se alguém vai lá pensando apenas na comida, está cometendo um erro. É toda uma experiência.
      E converse com o LP. Você bem que poderia vir me visitar um dia desses.

  2. Caio diz:

    Muito interessante as oportunidades que a cozinha japonesa proporciona, infelizmente não domino muito, mas esse menu me deixou até com vontade de tentar explorar um pouco!

  3. Claudio diz:

    Marisa, seu sotaque também é tão carioca quanto ao do Murakami? rs

  4. Nice diz:

    Eu amo sacolinha surpresa de Dona M. !!! rs Amo verdurinhas ibiunenses!

  5. Clarice diz:

    Que delícia! Fiquei com muita água na boca, deve ser uma experiência ótima ser mimada com uma comida dessas!! O salmão e o pacotinho de kombu me deixaram encantada.

  6. Denise diz:

    Belo post, Marisa!
    Não é fácil ter blog de comida… rs… o pessoal que entra no nosso blog falam que é maldade colocar fotos de comida, agora sei como é!
    Bjs

  7. Diulza Angelica dos Santos diz:

    OI Marisa, que bom que vc, foi la’, e ele escolheu a vieira, para o alho negro o que vc. achou casou os sabores. bjs(Diu)

  8. karime diz:

    Olá Marisa,não te conheço mas adoro as coisas q dizes e as comidas do site.
    Tenho uma pergunta:é possível fazer sushi c/arroz integral?
    Sei q foge da tradição masacho seu sabor mais interessante e,tb,mais nutritivo q oarroz branco.
    Parabéns pelo site!Abs,Karime.

    • Marisa Ono diz:

      Não se usa arroz integral para sushi por conta da textura, ele não vai “grudar”, vai ser mais firme, etc. No entanto, até já vi tirashi zushi e inari zushi com arroz integral, numa versão “fusion”.

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