Arroz de Bacalhau

Morei dos 3 meses aos nove anos de idade no Rio de Janeiro. Naquela época, pelo menos na região onde eu morava, haviam muitos portugueses e ciganos. Os meus padrinhos e os da minha irmã eram descendentes de portugueses. Para completar, a transportadora onde meu pai trabalhava carregava, entre outras coisas, tonéis de azeite e caixas de bacalhau. Não era tão raro um tonel se partir ou uma caixa estourar. Quem recebia recusava a mercadoria, o seguro cobria o acidente e o conteúdo era divido entre funcionários. Nos primeiros anos da minha vida, comia batatas fritas no azeite.

Por outro lado, estranhava a manteiga, que ia só no pão, quando ia. Aliás, manteiga não era um item muito popular. Poucos devem ter visto a manteiga ser vendida a granel, em supermercados. E, naquela época, geralmente rançosa. Não era todo mundo que tinha geladeira, nem tv. Popular mesmo, era o rádio de pilha.

O arroz de bacalhau é um prato da minha infância. Minha madrinha não costumava cozinhar muito. Lembro, além do arroz, da canja, do bolinho de bacalhau feito com bacalhau desfiado no pano e de um pudim de pão com ameixas. Aliás, não conhecia o tal do risoto. Em casa era só “arroz de”. Podia ser arroz de bacalhau,  de frango,  de mexilhões, de tomates. Mas o arroz era bem cozido, sem ficar mole demais, um pouco úmido, porém soltinho.

Para fazer esse arroz de bacalhau, aferventei uns pedaços de bacalhau já dessalgado e sem pele, parti em lascas grandes e tirei as espinhas. Refoguei uma cebola cortada em pétalas até ficar dourada, mas sem queimar. Fiz o arroz refogando em azeite e alho, usei o caldo do cozimento do bacalhau junto com água fervente. No meio para o final do cozimento, juntei o bacalhau e as cebolas. Quando a água abaixou, coloquei por cima folhas de couve rasgada, tampei e diminuí o fogo, terminando de cozinhar no bafo. Na hora  de servir, misturei um pouco, reguei com um pouco mais de azeite  e pronto, comi com uma boca boa.

Usei uma couve de folha bem escura, porém macia. Ganhei um pé, não sei o nome. Lembra muito o sabor das folhas de brócoli. E acho que ficaria bem bom usar folhas novas de brócoli nessa receita. São gostosas e não seriam disperdiçadas.

Como foi servido como prato único, só recomendo fazer um quantidade um pouco maior do que seria de costume se fosse só arroz branco. Come-se mais, com certeza.

 

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1 Response to Arroz de Bacalhau

  1. romulo netto diz:

    Adorei sua iniciativa.
    Você conhece uma fruta do cerrado chamada pequi? Há cinco anos descobri um método de produzir o pequi em pó. Eu faço artesanalmente, não leva conservante e depois de sete a oito meses não está embolorado, com fungos, não perde a cor nem o sabor. A geleia de pequi é outra coisa que faço e todo mundo gosta. Pretendo produzir industrialmente, em pequena escala, na safra deste ano (2011) entre escrever um livro e outro.
    Parabéns pela sua iniciativa
    Romulo

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