Cozinha do Desespero – O Intensivão

Volta e meia me pedem ajuda ou sugestões de como cozinhar todos os dias, mesmo trabalhando muito. Eu tenho 16 anos de experiência nisso. No período que morei no Japão trabalhei muito. Eram de 12 a 14 horas diárias. Juntando o tempo que eu gastava no trânsito, não sobrava muita coisa para cozinhar, comer, tomar banho e dormir.

A palavra-chave é organização. Se a cabeça não pensa, o corpo padece. A organização começava no final de semana, quando comprava os ingredientes. Para quem está começando agora nessa, vá com calma. Uma hora você vai aprender a comprar comida suficiente. É normal errar nas quantidades. Para complicar, minha geladeira era pequena. Não era raro eu ter que comprar vegetais e frutas no meio da semana.

O freezer ou congelador e o microondas podem ser seus aliados.

Para quem tem o costume (como eu) de comer arroz quase todos os dias:

Cozinhe uma quantidade razoável de arroz. Divida em porções. Embrulhe cada uma em filme plástico, formando um pacotinho retangular, chato, como um tablete de arroz. Congele. Na hora de comer, coloque o pacotinho congelado mesmo no microondas. Uns 2 minutos (dependendo da potência do aparelho) são suficientes para aquecer.

Eu gosto de sopas também. Cozinhava abóbora ou cenoura e transformava em pasta. Colocava em um saco plástico, formando um retângulo não muito grosso. É que depois de congelado, você poderá quebrar na porção que precisar. Se for uma placa muito grossa, isso fica difícil. Uma sopa cremosa pode ser feita com um pouco de cebola refogada em manteiga, caldo de carne ou frango, um pouco de purê de vegetais e, no meu caso, eu gosto de adicionar um pouco de leite em pó para ficar um sabor mais rico.

Falando em sopas, uma outra coisa que eu deixava feito era um mirepoix : salsão, cebola e cenouras, que eram refogados em fogo baixo até ficar macio (adicionando uma colher de água sempre que ficava muito seco). Congelava também em placas. Esse refogado incrementa o sabor das sopas, carnes ensopadas, karês, etc. Comentei sobre isso aqui:

http://marisaono.com/delicia/?p=2733

Carnes também era porcionadas e congeladas. Antes de sair para o trabalho tirava do congelador e passava para a geladeira. Carne moída costumava deixar refogada. Rende ensopadinhos rápidos (com vagem, batata, repolho, etc) ou recheio para panquecas, molho para macarrão.

Panquecas: também podem ser congeladas. Eu costumava fazer uma receita (que costuma render mais do que o necessário para uma pessoa) e congelava os discos. Panqueca pode ser recheada com quase qualquer coisa: carne moída, queijo e presunto, espinafre com molho branco, ricota. Descongele na geladeira, recheie e aqueça no forno, enquanto toma banho.

Também assava só a massa para quiches. Fazia pequenas, uma porção boa para  duas pessoas (eu levava marmita para o trabalho). Congelava e, na hora, recheava e levava ao forno congelada mesmo.

Aqui no Brasil é difícil encontrar carne fatiada fino. Só vejo na Liberdade e nos bairros onde a concentração de coreanos, chineses e japoneses é grande. A vantagem é que cozinham rápido e rendem bons refogados. Abusava delas: carne de porco fatiada com repolho, carne de vaca com pimentão e cebolas em tiras, ou brócoli, ou cogumelos, ou vagens em tirinhas.

Para as saladas, eu deixava feito um ou dois molhos, que publiquei aqui:

http://marisaono.com/delicia/?p=4696

Costumava levar salada para o almoço, com o molho à parte. Folhas, tomates, fatias de peito de frango assado, grãos cozidos (geralmente cevada ou milho verde cozido), ou pedaços de queijo ou atum em lata,  acabavam rendendo uma refeição.

Para os cozidos eu usava uma panela térmica, a Shuttle Chef. Basta colocar a comida dentro dela com água, ferver por 10 minutos e depois colocar no compartimento térmico. Podia cozinhar feijão ou carne enquanto estava no trabalho, sem medo de incendiar nada. Pena que não vejo delas por aqui. Antigamente fazia o seguinte: embrulhava a panela em jornal e depois em um cobertor. Funcionava bem, mas ocupava um espaço enorme na mesa. Outra opção é fazer uma porção maior de feijão e congelar. Eu costumava cozinhar sem tempero e temperar na hora de comer. Já as carnes de panela eu usava bem menos sal que o costumeiro, caso fosse congelar.

Consumia frituras, sim, mas sem exagero. Karaage (bocados de frango frito à moda japonesa) congelam muito bem. Congelo depois da primeira fritura, em aberto, em uma assadeira. Depois de congelados, iam para um saco plástico. Na hora de comer, vão para a frigideira congelados mesmo, em óleo não muito quente. Filés finos de frango ou peixe podem ser empanados e congelados, espalhados em uma assadeira (congelamento aberto), assim não grudam um no outro e ficam mais fáceis de manusear. Podem ser descongelados no microondas e fritos na hora.

Molhos prontos também são bons aliados. Um pouco de molho de ostras vai dar um sabor extra ao refogado de carne e vegetais, por exemplo. Existem uns molhos de tomate bem razoáveis, que são de grande valia para o preparo de uma massa. Caldo industrializados são um recurso, sim. Pena que no Brasil a maioria seja quase só sal e pouco sabor. Ou, pior, muito salsão e tem uma marca em especial de também usa sálvia, que eu detesto. Fora do Brasil já vi caldos em caixas tetrapack, em pastas concentradas ou mesmo em pó, com pouco sal. Ainda vamos ver uma evolução disso. Se quiser e tiver tempo, faça seu caldo no final de semana e congele em potes.

Microondas também encurta uns caminhos. Uma espiga de milho envolta em filme plástico cozinha no microondas em mais ou menos 4 minutos. Um peito de frango pode render uma receita boa (sério) tanto para comer com arroz ou como para ser utilizada posteriormente em um sanduíche ou salada:

http://marisaono.com/delicia/?p=2127

O forno convencional também era de grande valia. Podia colocar berinjela e tomate fatiado em uma assadeira, ligeiramente sobrepostos, temperados com sal e pimenta do reino, azeite para regar tudo e uma folha de papel alumínio. Colocava no forno e ia tomar meu banho com tranquilidade.

A organização também continua a cada dia. Pense com antecedência no que vai preparar à noite e retire do congelador o que precisar. Chegando em casa, organize o jantar, se puder deixar algo no forno enquanto toma banho otimiza o tempo, por exemplo.

Aqui está o link para uma série de receitas rápidas que já publiquei:

http://marisaono.com/delicia/?cat=97

No blog existem outras tantas receitas rápidas. Vá colecionando suas receitas, uma hora perceberá que tem um cardápio bem variado.

E, por fim, sugiro que use louça, talheres, copos de verdade. Apesar da correria, desfrute da refeição. Porque comer é importante, mas ter prazer também é.

 

 

 

 

 

 

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13 Responses to Cozinha do Desespero – O Intensivão

  1. Sandro diz:

    Marisa, minha mae costumava refogar o arroz e congelar em pequenas porçoes, antes de cozinhar. Que é, no fim das contas, a parte mais trabalhosa. Depois era só jogar na água fervente e controlar o tempo. Tem a vantagem de ficar com gosto de arroz frequinho. Eu, para fazer sopas rápidas, refogo os legumes bem picados em panela de ferro bem quente. Já ficam praticamente cozidos e em 20 minutos a sopa está pronta.

    • Marisa Ono diz:

      Que bom vê-lo aqui, Sandro! Também faço sopas com legumes picadinhos, cozinham em bem menos tempo. Mas confesso: muitas vezes meto tudo na panela de pressão.

  2. Claudia Oliveira diz:

    Para uma universitária, como eu, esse post foi de grande valor!

    • Marisa Ono diz:

      Obrigada, Claudia. Pensei nas pessoas que estão começando a viver sozinhas – e não são poucas – por diversos motivos e que não querem viver só de congelados e sanduíches. Conforme for lembrando de umas coisas vou incluindo aqui.

  3. Lara Helena diz:

    Mas que beleza de post! Pra cozinhar todo dia e em pequenas quantidades tem mesmo que usar e abusar de truques e tecnologias, senão desanima. Eu confesso que ando um bocado preguiçosa e sem inspiração, então suas dicas vem bem a calhar, gracias!
    Feijões e outros grãos demorados eu sempre cozinho em grande quantidade, porciono e congelo. O feijãozinho do dia a dia eu cozinho já com alho refogado e louro, mas sem o sal, que acrescento quando descongelo. E descobri que aqueles copos plásticos de requeijão com tampa comportam uma porção certinha para dois. Gosto muito também de ter porções congeladas de grão de bico, feijão branco, lentilha… Cozidos al dente sem tempero, que posso usar pra sopas, saladas, ensopados, etc.

    • Marisa Ono diz:

      Oi, Lara. Eu também gosto de salada e sopa de grão-de-bico. Sempre tive algo congelado para emergências, como um petisco (empadas, coxinhas, por exemplo). Aliás, é uma paranóia minha: receber alguém com geladeira vazia, sem um biscoito ou lanche para oferecer. Herdei da minha mãe, que sempre teve uns potes de conserva, doces em calda na dispensa.

  4. Diulza Angelica dos Santos diz:

    Ai Marisa eu cozinho todos os dias almoço e janta,e realmente to perdida nos cardapio, mais pego receitas suas, de de outros e vou levando, aqui nem da para congelar só os caldos mesmos pois agora é tempos das sopas . tenho uns caldos congelados.

    • Marisa Ono diz:

      Ah, Diulza, eu não me preocupo tanto. Faço o que tem na geladeira, geralmente algo rápido para o almoço. Agora que a mãe está tratando de uma esofagite e gastrite, tenho que ter um pouco mais de cuidado. Nem todo dia é dia de comida especial. A minha preocupação sempre é de ter proteína, vegetais e um arroz ou outro carboidrato.

  5. Gilda diz:

    Que super dicas, experimentadas e aprovadas! Mesmo quem não tem senso de organização vai se beneficiar e encontrar soluções baseadas nisto que está aqui. Sobre as sopas eu gosto muito de juntar kinako, que dá um gostinho todo especial e aumenta o teor de proteína. E guardo carne moída crua em tabletes finos, em porções de 100 gr. Compro meio quilo, achato no pacote e marco com o lado da mão em 5 tiras até separar. Descongela em 3 minutos no micro-ondas, na potência baixa. E claro, carnes cozidas, em porções individuais (acém, carne de sol, tiras de frango) no próprio caldo ou água de cozimento. E olha que eu não trabalho fora mais.

  6. Silvia - BH diz:

    Marisa,

    Não reli mas acho que não mencionou ovo cozido que sempre usei. Deixo para descascasr na hora.Os meus são caipiras, cozinho alguns de uma só vez, e vou usanod um de cada vez.

  7. Silvia - BH diz:

    Ficou muito bom este “guia”. Também aprendi com minha mãe a ter gostosuras para eventuais visitas.

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