Dalva e Dito Convida Thiago e Felipe Castanho

Fui almoçar no Dalva e Dito. Sim, estava muito curiosa pela comida do Pará. Confesso que não conheço nada do Brasil do Rio de Janeiro para cima. Como até hoje só conheci lugares para onde fui levada pelas circunstâncias (leia-se trabalho), espero que um dia algo me faça ir para as outras regiões do Brasil.

No couvert vieram pimentas, alho assado, pão, beiju crocante com um toque de pimenta, bolinho de piracuí (farinha de peixe, algo que eu diria ser próximo ao katsuo-bushi e o soboro), que remete um pouco ao bolinho de bacalhau.

E também veio um antepasto adocicado de berinjela e jiló. Experimentei todas s pimentas. A amarela eu tenho aqui em casa, disseram-me que era pimenta-de-cheiro do Pará, não sei se tem esse nome de fato. A arredondada não tenho certeza qual seja. A verdinha parece ser a cumari, que também tenho aqui. E, se eu não estiver errada, a outra, alongada e vermelha é a malagueta.

A entrada foi o tacacá. Não conhecia esse caldo ácido, herbal, com o jambu dando choque pela boca toda. No entanto, que engraçado, me lembrou algo que comi em um restaurante tailandês.

Também não conhecia o filhote, que veio suculento, macio, delicado. Esqueça a ideia de que todo peixe de rio tem gosto de lodo. Na verdade depende muito do que ele come e de onde vem. Veio com um molho de tucupi (o sumo da mandioca brava, fervida para reduzir a toxina) e um cuscuz de farinha d’água.

Mas para mim a grande surpresa mesmo foi o pirarucu defumado, com urucum, banana e farofa de castanha. Primeiro porque sempre fico com um pé atrás com peixes defumados. Tenho algumas más lembranças. Esse pirarucu, segundo o Thiago, foi curado e defumado, ganhando textura e sabor, sem ficar ressecado, muito saboroso e, ao mesmo tempo, simples.

A sobremesa era bacuri com melado, cumaru, café e tuile de tapioca. No detalhe da foto, uma das flores que mais gosto: a alyssum. Talvez porque na Antiguidade era utilizada para tratamento de doenças mentais (brincadeirinha…). O engraçado é que não me lembro de ter comido bacuri, mas o sabor dele pareceu-me familiar. Pode até ser que eu tenha comido, há muito tempo, ainda criança, quando meu pai trabalhava em uma transportadora e os motoristas vinham de lugares distantes com coisas curiosas.

Valeu? Valeu. Valeu primeiro pelo sabor. Valeu conhecer uma cozinha tão diferente e tão delicada. Valeu pelo aprendizado, pela experiência.

Thiago e Rodrigo Castanho estarão no Dalva e Dito até o dia 21. É melhor fazer reserva. O menu do jantar é diferente do almoço.

Rua Padre João Manuel, 1115  Fone: 11 3068-4444

PS: A Antonia Padvaiskas, do Empório Poitara comercializa muitos produtos amazônicos. Tem um melaço divino, farinha ovinha, piracuí e um mundo de coisas. O e-mail dela é: toni.ginger@gmail.com

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5 Responses to Dalva e Dito Convida Thiago e Felipe Castanho

  1. Diulza Angelica dos Santos diz:

    Ma faltou valores,pois sendo de quem é deve ser caro não? hoje a comida virou fetiche fazendo de seus cozinheiros verdadeiros celebrety..mais fico feliz pois realmente é a comida autêntica do Norte do Brasil,sem influência Européia.bjs.

    • Marisa Ono diz:

      O almoço é R$80,00, jantar R$110,00, couvert R$16,00, Diulza. Tem alguma influência européia sim, afinal, a cozinha brasileira deriva da portuguesa em muita coisa, não?

  2. Diulza Angelica dos Santos diz:

    Não a cozinha Paraense é a considerada mai genuína cozinha brasileira, por não ter influência europeias ou africanas os elementos usados são retirados da fauna e flora do Pará, e eles não são encontrados em nenhum lugar do mundo, é tradicionalmente indígena e especifica daquela região, uma bela herança deixada por eles não acha? bjs

    • Marisa Ono diz:

      Ah, Diulza, eu prefiro ficar fora dessa discussão. Considerar a cozinha paraense mais autêntica seria renegar o feijão-com-arroz que se come em todo país, ignorar a comida do Centro-Oeste com influência guarani, os nossos doces como a goiabada, carregada no açúcar e tantas coisas mais. Prefiro pensar que tudo tem seu valor, até o frango de padaria…

  3. Diulza Angelica dos Santos diz:

    Não é renegar pois sou do Centro Oeste, e sempre teve estas discução sobre a origem da nossa comida tipica,uns dizem que é dos bandeirantes com indios, pois tivemos tb pouca influência Africana, mais nossa comida e mestiça podemos dizer misturada,como eu mestiça.como o pato no tucupi os indios faziam paca ao tucupi enão pato.

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