Os Superestimados Orgânicos

Já vou avisando que se você é um fanático defensor dos orgânicos, é melhor parar de ler agora. Também aviso que se você é o típico leitor da internet, que não gasta mais que um minuto por página e raramente lê mais que 1/4 do texto, também é melhor parar agora. O texto vai ser longo. E, por fim, aviso que não vou tolerar agressões nos comentários. Aliás, estou considerando a hipótese de fechar os comentários para esse post. É uma opinião formada depois de ler e ver um bocado de coisas por aí.

Em primeiro lugar, há muito tempo evitei falar sobre os orgânicos principalmente porque tornaram-se algo apenas para quem pode pagar. Se tanta gente acha que vegetais orgânicos são tão bons, porque ninguém briga para que eles sejam oferecidos para quem mais precisa, como convalescentes e crianças em fase de desenvolvimento? Que tenhamos então orgânicos nas refeições de hospitais, creches e escolas públicas.

Em segundo lugar, mantenho um certo ceticismo sobre o que é mesmo orgânico. Uma cenoura não fala. Sinto, mas quem compra produtos orgânicos está comprando um conceito, mas não significa que está realmente levando para casa aquilo que pagou.

E até hoje estava evitando tocar no assunto porque creio – embora não tenha certeza – de que os vegetais orgânicos são um meio de pequenos produtores serem melhor remunerados.

A maioria das pessoas que consomem orgânicos acredita que está consumindo algo livre de substâncias tóxicas. Lamento dizer, mas isso não é toda a verdade. Existem inseticidas orgânicos. O mais conhecido é o óleo de neem, que contém um princípio ativo retirado de uma planta, não significa que seja totalmente seguro para homens, animais e para o meio-ambiente. Esse engano é muito comum também em medicamentos fitoterápicos. Existe uma dosagem que é segura para o ser humano, mas não tanto para peixes e animais como gatos. Mas a questão que mais me incomoda é que os inseticidas permitidos em uma cultura orgânica não são tão eficientes. Ou seja, é preciso efetuar mais pulverizações, usando mais inseticida. Em muitos casos, 3 vezes mais que usando-se um inseticida químico. O quanto isso é prejudicial para quem consome, para a terra e para os rios próximos? Pouco se sabe ainda. Existem opções menos arriscadas, como bio-inseticidas (como o caso de fungos isolados), que são muito caros. Eu sei porque comprei e estou testando. Também há a opção de iscas atrativas, comuns no Japão. Essas pretendo testar um dia, quando encontrar para comprar.

Outra questão é o uso de adubo orgânico. Todo mundo pensa que o esterco é o melhor adubo existente. Lamento, novamente, dizer que isso também não é toda a verdade. Se por um lado aproveitamos algo que é descartado de granjas, estábulos etc, e apesar de conter uma quantidade considerável de nutrientes (dependendo do esterco, de que animal), ele não pode ser utilizado diretamente na terra. É preciso passar por um processo de “cura”, ou seja, uma decomposição, onde parte desses nutrientes se vai, devorado por bactérias. Outro fato é que esterco pode ser muito ácido e conter muitos sais que não são benéficos às plantas. Uma cultura baseada somente em esterco vai tornar o solo muito ácido, alterando a permeabilidade do solo. Ou seja, em vez de fazer bem, pode ser prejudicial. No entanto, não condeno o uso de material orgânico, muito pelo contrário, matéria orgânica é essencial para melhorar a plasticidade do solo, permitindo melhor desenvolvimento da planta. Só não é recomendável basear a adubação em um tipo composto orgânico.

E a questão do uso do esterco vai mais além. Vegetais orgânicos também são sujeitos à contaminação por coliformes fecais, parasitas e outros organismos prejudiciais à saúde. Em pesquisa (abaixo, no final deste post) em alguns casos chegou-se a 40% das amostras contaminadas por coliformes fecais. É aí uma questão de segurança alimentar. O esterco tem que ser curtido e esterilizado. Dependendo do método utilizado, o esterco só pode ser utilizado depois de 6 meses de cura. Ou seja, a recomendação de higienizar bem todos os vegetais continua valendo. Mesmo para os orgânicos.

E por fim, mas não menos importante, está a questão do sabor. Sinto, sinto, sinto muito, mas ser orgânico não garante absolutamente nada em termos de sabor. O sabor de um vegetal depende primeiro da espécie em questão. Veja o caso do tomate: tomates “longa vida” (ou seja, do tipo que nunca amadurece, por isso não apodrece também) como o Carmem nunca vai ter o sabor de um Momotaro ou Italiano ou Holandês. Porque essas variedades amadurecem e apodrecem, vão ter um ponto de auge da maturação e, consequentemente, sabor. Em seguida temos as condições onde foram cultivados. Cada planta tem sua exigência de solo, irrigação, incidência diária de sol. Creio que é isso que chamam de “terroir”. E, por fim, um vegetal ou fruta fresca geralmente é bem melhor do que aqueles que foram colhidos há 2, 3 dias. Por isso a possibilidade de encontrar um vegetal mais saboroso em uma feira, comprada diretamente do produtor -orgânico ou não – é bem maior do que no supermercado. Digo geralmente é melhor porque existem produtos que, curiosamente, melhoram com o tempo, como a maçã e a pera, que precisam de um tempo de descanso após a colheita e a batata-doce, que se estocada em condições corretas, fica ainda mais doce.

Não espero que ninguém demonize os orgânicos, muito pelo contrário. Espero sempre que as pessoas façam o que acreditam ser correto. Eu continuo acreditando que é preciso apoiar o pequeno produtor, que é preciso alterar a legislação e legitimar a produção agrícola urbana, que é preciso haver orientação a esses produtores sobre manejo e uso do solo, assim como uso correto de defensivos agrícolas – caso eles queiram – e oferecer soluções de baixo custo. Que esses pequenos produtores precisam ser estimulados a produzir qualidade, já que jamais poderão oferecer quantidade. E que essa qualidade seja reconhecida e bem remunerada. Também acredito que o consumidor precisa se educar. Que ele entenda que vegetais bonitos implicam no fato que os feios (picados, tortos, etc) são jogados no lixo. Também gostaria de pensar que as feiras-livres sempre existirão, como uma forma de termos uma maior diversidade e também por questão cultural. E, por fim, espero que eu esteja errada. Espero que a agricultura orgânica prove ser a maneira correta de lidar com o solo, manter quem quer plantar no campo e podermos – todos, não apenas uma porção de uma elite – consumir alimentos mais seguros, mais nutritivos e mais gostosos.

Façam suas escolhas. Não porque eu disse isso ou aquilo ou porque saiu na tv, aquela carismática apresentadora disse que faz bem. Façam suas escolhas dentro do que é possível, do que se encaixa nas suas necessidades e possibilidades e, principalmente, depois de obter informação de fonte confiável (não, não creio que eu seja confiável) e analisada. Dá trabalho pesquisar e separar o joio do trigo, mas sua saúde vale isso, não?

Contaminação por coliformes fecais, parasitas, etc: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-20612010000500033&script=sci_arttext

Prós e contras do uso de esterco em culturas orgânicas:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-06832008000100010&script=sci_arttext

Sobre pesticidas orgânicos (em inglês)

http://www.ocf.berkeley.edu/~lhom/organictext.html

Artigo sobre os contras da agricultura orgânica (em inglês)

http://www.newscientist.com/article/dn22240-organic-food-no-better-for-you-or-the-planet.html

Artigo rejeitando efeitos benéficos do consumo de orgânicos (em inglês):

http://www.sciencebasedmedicine.org/index.php/no-health-benefits-from-organic-food

PS: os vegetais que ilustram este post saíram da horta daqui de casa, não são orgânicos porque recebem além de adubo orgânico, adubo químico. Inseticidas foram usados pontualmente.

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33 Responses to Os Superestimados Orgânicos

  1. Junior Costa diz:

    Outro ponto que vale a pena ler/investigar é o papel das empresas certificadoras que garantem os selos verdes/orgânicos.

    Como exemplo que conheço, o boi verde brasileiro é uma grande piada. Basta conhecer por dentro os procedimentos de certificação. Em dado momento as certificadoras se transformaram apenas em gráficas de impressão de certificados animais.

    • Marisa Ono diz:

      Junior, eu não estou bem a par da criação de animais orgânicos, por isso deixei de lado da discussão. No caso dos vegetais experimento aqui em casa, estou sentindo as dificuldades que existem. Claro que sempre há motivos para desconfiar, num país no qual quase tudo só acontece diante de um suborno ou de um favor.

  2. Maria Helena diz:

    Sua posição é correta. Nem tudo que chamam de orgânico é 100% livre de substâncias tóxicas. Já tive sítio e meu maior orgulho era minha horta para fornecimento para a família, empregados e vizinhança. Aprendi bastante com erros e tentativas, para ter uma produção o mais “orgânica” possível. Vendo como um esterco mau curtido queima a planta dá para entender. Acho que o bom senso é o melhor caminho. Parabéns pelo post.

  3. raq diz:

    sempre tive essa dúvida em relação a orgânicos: o que é melhor no meu alimento? contaminação biológica ou química? pq sempre desconfiei que orgânicos poderiam ter algum tipo de contaminação biológica, por exemplo coliformes fecais.
    só não entendi um ponto: como a acidez do solo altera a sua permeabilidade?

  4. Luiza diz:

    Fico feliz de saber que nao sou a unica a pensar que para tudo deve haver equilibrio! Tbem acho que devemos sempre pesar bem os pros e contras.
    Parabens

  5. Diulza Angelica dos Santos diz:

    Marisa o que deveria ser explicado é a quantidade de veneno que é aplicado em cada alimento, outra coisa muitos produtos toxicos proibidos no exterior são usados aqui no país, fora que faz parte da cultura enganar o consumidor,. eu uso um método para comprar os produtos só não da pra explicar seria alongar,mais estais coberta de razão. produto natural e a serraia na greta da calçada e assim mesmo olhe lá. bjs.

    • Marisa Ono diz:

      Por isso mesmo, Diulza, espero que o produtor receba melhores orientações. Além do mais, usar inseticida demais tem seu custo, isso pesaria no bolso do próprio produtor. Por outro lado, saber que pelo menos 30% da produção agrícola é jogada fora, em parte porque queremos vegetais bonitos, é também para se pensar.

  6. GUSTAVO BRUSCA diz:

    PARABENS GOSTEI MUITO DE SUA MATERIA E ESPERO PODER LER OUTRAS QUE FALEM DE NOSSAS COMIDAS.

    • Marisa Ono diz:

      Obrigada, Wilma e Gustavo. Raquel, estou procurando o artigo que li sobre a relação entre esterco, permeabilidade do solo, acidez e salinização. Quando encontrar, publico o link.

  7. Wilma diz:

    ATÉ QUE ENFIM ALGUÉM TAMBÉM PENSA COMO EU, NÃO DÁ PRA ACREDITAR EM TUDO QUE APARECE NA TV, INTERNET, JORNAIS E REVISTAS. É PRECISO VERIFICAR A VERACIDADE DAS INFORMAÇÕES. MARISA VOCÊ É ÓTIMA. PARABÉNS!!

  8. João diz:

    Aqui eu tento fazer 100% orgânico, mas nem sempre é possível. O óleo de neem ou chá de fumo são preventivos, não acabam com o problema assim, se infestar já era. Aí eu parto para o veneno, ninguém quer perder a produção não é mesmo? O lance é aumentar a prevenção, usar armadilhas (adesivos amarelos), plantas iscas, predadores naturais (joaninhas, spidermites) e etc..

    Agora em relação ao adubo é tranquilo, uso humus (minhocário) para nitrogênio, farinha de osso para fósforo e cinzas de lenha para o potássio. E para controlar a acidez uso calcário dolomítico.

    Dizem que o que faz mal no fertilizante químico é o nitrato que é cancerígeno. E ue muitos agricultores usam doses abusivas de fertilizantes e tal.

    Mas só sei que não tem como acabar com o fertilizante químico, pois quantas toneladas de esterco precisaria para abubar hectares de plantações? É igual se todos os carros movidos a combustíveis fossem trocados por carros elétricos, ia acabar a energia elétrica do mundo.

    • Marisa Ono diz:

      João, também fiquei bem desapontada com o óleo de neem e o fumo. Ainda acho cedo para falar do inseticida biológico (à base de fungos), mas já anotei um porém: é um pó, não dilui bem e, por isso, não sei se distribuição foi eficaz.
      Quanto a adubos, conheço gente que só usa esterco de galinha e não faz a calagem, o que acho ruim. Vi a horta e notei que as plantas não se desenvolvem bem, também.
      No caso da relação do nitrato, isso eu conheço um pouco melhor, tive um contato mais próximo com um professor que pesquisava exatamente a relação de adubos e nitrato na planta. De fato, alguns vegetais, como o espinafre, tende a ter uma concentração maior. O negócio é aferventar antes de consumir.
      Também acho difícil ficar sem adubos químicos. Vi que meu limoeiro respondeu muito bem à adubação foliar com micronutrientes, pela primeira vez frutificou. A goiabeira também está carregada. No ano passado, bem, eu não usei nada e a safra foi bem fraca, frutos apodreciam no pé.
      Gostaria que existisse uma solução que atendesse a tudo, mas pelo que tenho visto, por enquanto, temos que optar pelas opções “menos piores”, não é?

  9. Mario Iwakura diz:

    O problema ao meu ver é que a veracidade de um artigo é, invariavelmente, inversamente proporcional ao dinheiro envolvido…

    Outro aspecto relevante são os artigos do bioquímico Bruce Ames, professor da Universidade do Texas, Berkeley, que já foi acusado de estar a serviço das multinacionais do agrotóxico. Mas os seus artigos são interessantes. Segundo ele, 99% dos inseticidas que ingerimos são naturais, produzidos pelas próprias plantas que comemos. Não é por outra razão que vários compostos de plantas são utilizados como agrotóxicos naturais…

    http://potency.berkeley.edu/pdfs/Paracelsus.pdf
    http://www.nytimes.com/1994/07/05/science/scientist-at-work-bruce-n-ames-strong-views-on-origins-of-cancer.htm

    Muita gente come toneladas de vegetais (orgânicos ou não) achando que está fazendo muito pela sua saúde, entretanto a evidência científica é quase sempre epidemiológica, os três maiores estudos controlados nesse sentido, embora tenham custado milhões de dólares, foram um fracasso total. São eles: o Woman’s Health Study (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16467234), o WHEL trial (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17635889) e o Polyp Prevention Trial (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17855692).

    Mas como nem tudo têm só um lado negro, as frutas e vegetais são a principal fonte de nitrato (junto com a água). Ele é formado natualmente na natureza, não vêm só do do adubo químico. E como tudo o que se forma naturalmente de forma abundante e há muito tempo, eu diria que é altamente improvável que seja maléfico à saúde.

    Relatório da EFSA (European Food Safety Authority) sobre as fontes de nitrato em países europeus (na França, por exemplo, frutas, vegetais e água representam 89% do nitrato ingerido):

    http://www.efsa.europa.eu/en/efsajournal/doc/contam_ej_689_nitrate_en.pdf?ssbinary=true
    (espinafre, pelo menos na Europa, não é nem de longe o vegetal que contém mais nitrato).

    Artigo do Stephan Guyenet sobre os benefícios do nitrato:

    http://wholehealthsource.blogspot.com.br/2010/06/nitrate-protective-factor-in-leafy.html

    Em resumo: a dose faz o veneno. Coma vegetais, mas variedade em primeiro lugar e nunca em quantidade.

    • Marisa Ono diz:

      Mario, adoraria acreditar que existem cientistas que estão à procura da verdade e nem um pouco interessados em defender interesses de empresas, mas o mundo não é como a gente quer, não? Ou até pior: não é muito comum alguém obter resultados contrários às expectativas. Vou ler os artigos com calma.
      Quanto aos nitratos, toda a grita a respeito do possível malefício (principalmente quando se referem a embutidos) parece ridículo considerando-se o quanto ingerimos por outros meios. Lembrei da relação adubo-espinafre por conta do professor Bernard Gardes, ele estava pesquisando isso (há muito tempo, década de 80…) E, se não me engano, o espinafre consumido na Europa não costuma ser a mesma variedade que vemos por aqui, está mais para o horensô.
      Claro que a questão toda é muito mais complexa mas eu precisava dizer que não estava de acordo o tal do “senso comum”. E, ao que parece, serviu para iniciar um debate.
      Obrigada pelas informações.

  10. Lara Helena diz:

    Ótimo texto Marisa, observações muito pertinentes e informações utilíssimas.
    Muitos defensores ferrenhos de orgânicos possuem conhecimento pra lá de superficial sobre os processos de cultivo e seu real impacto. E arrisco dizer o mesmo sobre os detratores dos transgênicos.
    Sobre a superioridade do sabor dos orgânicos, tenho cá comigo que pode ser devida aos procedimentos de colheita e embalagem, bem mais cuidadosos que na produção em larga escala. Lembro de ter visto uma matéria no Globo rural sobre produção orgânica de tomates. Mostrava que, ao contrário dos cultivos tradicionais, numa propriedade de cultivo orgânico os frutos eram colhidos num ponto certo e eram colocados, e não jogados, em um cesto durante a colheita, o que fazia com que chegassem ao ponto de maturação mais saborosos. Ou seja, tomates colhidos verdes demais e jogados de qualquer jeito perdem em sabor. Também noto que em geral os orgânicos tem tempo de vida maior na geladeira, e creio que pelo mesmo motivo, ou seja, a colheita mais cuidadosa e menos traumas de embalagem e transporte. Por sua vez, frutas e verduras compradas nos grandes supermercados, oriundas de grandes plantações, em geral são sem sabor e estragam rapidíssimo.

    • Marisa Ono diz:

      Oi, Lara. Claro que é uma análise muito superficial, há tanta coisa para ser lida a respeito. Mas acabei escrevendo porque acabei me irritando com esse comportamento de “vaca de presépio”, que só diz “amém”. Vejo pessoas seguindo orientações sobre saúde de gente que não tem credencial alguma, consumindo coisas só porque alguém na tv falou isso ou aquilo. Até comentários de humoristas estão sendo levados a sério. Certamente tem muita gente boa estudando isso, o problema está em encontrar e selecionar as informações mais confiáveis.
      Quanto à qualidade de verduras, além da horta, compro de produtores locais. Muita coisa dura um bom tempo na geladeira. Tomates como o Momotaro, o Holandês e o Grape duram bem, talvez porque sejam manipulados e embalados com cuidado, passam por seleção manual. A questão dos supermercados é o preço, os itens perecíveis tornaram-se um diferencial. Pena que a diferença esteja mais no preço que na qualidade.
      Ainda não li o suficiente sobre transgênicos, gostaria de saber se já há algum dado que comprove ou desminta a má fama que ganharam.

  11. Karina diz:

    Olá Marisa

    Aqui vai meu relato, quando participava do grupo de estudos sobre horticultura na ESALQ eu realmente me espantei não só com a quantidade de defensivos agrícolas mas com a quantidade de hormônios que são usados nas plantações.
    Sabe aquele aspecto esbranquiçado na bandinha da uva? Hormônio do crescimento.
    Fiquei meio chocada na hora.
    Quanto ao assunto dos orgânicos… só vou ter certeza que é orgânico o que eu plantar na minha casa, sou meio desconfiada com os meios de cultivo desses produtores.
    Quanto ao sabor, o tomatinhos que plantei na casa da minha tia era 100% orgânico, não usei nenhum tipo de defensivo agrícola e usei húmus de minhoca e vou te falar que o sabor era muito melhor do que qualquer tomate que eu tenha comido, e deu pra caramba…kkkk

    • Marisa Ono diz:

      Já aqui em casa, Karina, não consigo colher tomates. O clima não ajuda, muita umidade, solo ácido demais, sem boa drenagem. O único tomate que dá é aquele quase selvagem, que dá em qualquer mato. Ele tem um gosto muito forte. Por outro lado conheço produtores que não usam defensivos mas que não podem ser chamados de orgânicos porque usam adubos químicos. E olho com desconfiança produtos que vieram de uma “fazenda orgânica”. Arar, capinar e plantar sem o uso de tratores uma área extensa? Sei não…

  12. Gabriel diz:

    Tenho um ponto de vista muito parecido em relação a orgânicos. Acredito que são supervalorizados e também acredito que a quantidade de “químicos” que os vegetais absorvem é tão pequena que não faz a menor diferença. Grande artigo, parabéns.

    • Marisa Ono diz:

      Quanto à quantidade de defensivos utilizados, Gabriel, conversei com um agrônomo e ele admitiu que alguns produtores usam além da conta. É um trabalho longo de orientação, sobretudo no caso das hortaliças, que são produzidas por pequenos produtores. No mais, o Brasil produz muitos grãos, intensivamente e tudo que é utilizado na soja e milho é computado na média nacional. Creio que o risco maior mesmo é para quem trabalha no campo e aplica, fica muito mais exposto e nem sempre usa equipamento de proteção.

  13. Concordo com voce…aqui teve uma feira de organicos, os vegetais eram lindos, todos do mesmo tamanho, e sem sequer uma marquinha.Eu acho que organicos eram aquelas frutas e vegetais que comia, da pequena horta de minha avo, que ela amava.As galinhas eram alimentadas com milho, o que fazia com que as gemas fossem alaranjadas.Nenhuma cenoura era igual, nunca passou nenhum agrotoxico, e usava receitas caseirs para se desfazer de pragas, Isso sim nenhuma fruta ou vegetal eram perfeitas. Desconfio sempre dessas ondas…e ja passamos por tantas ….

    • Marisa Ono diz:

      Pois é, Sylvia, os tais ovos orgânicos. Já comprei ovos ditos orgânicos com a gema bem clara e a casca fina. As que ganho dos vizinhos (e elas comem ração mas também ciscam, comem couve, etc) têm a casca bem durinha e a gema quase vermelha. Dá para confiar? Eu não confio, não…

  14. Gabriel diz:

    Marisa, tem razão! Eu, egoísta, nem pensei no lado do produtor.

  15. André Sanches diz:

    Recomendo a leitura dos artigos da Universidade Federal do Ceará e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva sobre a questão dos Agrotóxicos Químicos, onde em um Dossiê que reuniu 24 cientistas, muitos médicos especialistas e que rendeu 4 anos de estudo, foram comprovados, identificados e relacionados casos de neurotoxidade, mutagenicidade e desenvolvimento de células cancerígenas devido ao uso de agrotóxicos (tanto na zona rural como nos grandes centros onde a população apenas consome os produtos).
    http://www.abrasco.org.br/UserFiles/Image/DOSSIE2f.pdf
    http://www.cearaagora.com.br/noticias/interior/pesquisa-aponta-o-uso-intensivo-de-agrotoxicos-no-interior-do-ceara
    http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1174928

  16. Raiza diz:

    Achei o texto extremamente raso, uma mera opinião de alguém que quer ter opinião. Falar de organicos e nem mesmo se dar o trabalho de levantar outros pontos como sustentabilidade, remuneração justa ao agricultor e incentivo de produção local que combate emissão de gases toxicos pra mim é um texto infantil e sem fundamento. Consumir organicos é um estilo de vida que não para no mero fato das “toxinas na salada”. Quem consome organico acredita em um mundo melhor, mais justo, onde o agricultor é respeitado assim como os animais que serao abatidos para o seu consumo. Organico é vida!

    • Marisa Ono diz:

      Raiza, moro na zona rural, converso com produtores – orgânicos e não-orgânicos. Ilude-se se acredita que os produtores de orgânicos são bem-remunerados, muito pelo contrário. Muita gente aliás desistiu exatamente por conta da baixa produtividade e baixo retorno. Os orgânicos não apresentam impacto ambiental tão baixo. Para a produção de vegetais, ocupa-se uma área bem maior do que os hidropônicos, por exemplo. O gado orgânico exige uma área desmatada muito maior e produz muito mais metano do que o gado confinado. As questões principais que coloquei foram que eu não tenho nenhuma garantia de que estou realmente consumindo produtos orgânicos. Vivemos num país onde casas noturnas funcionam sem alvará, ovos são vendidos sem se ter a mínima idéia de quando foram postos e sempre haverá alguém se aproveitando de qualquer oportunidade. Outro ponto que me irrita profundamente é que se tornou algo que é consumido apenas pelas elites. Aí a questão da mais-valia vai por água abaixo. Reclamar incentivos para os produtores orgânicos seria a mesma coisa que pedir subsídio para criadores de escargot. Uma iniciativa que aplaudo é a que está sendo feita em Guarulhos. Pequenos produtores urbanos estão fornecendo vegetais para a merenda escolar, além de orientação para um uso consciente do solo. Ou seja: alimento seguro para quem precisa e um trabalho que, espero, tenham um impacto não só no ambiente mas também social. A questão do pequeno produtor é muito maior, começando por uma legislação que não reconhece quem produz em áreas urbanas ou em terrenos com menos de 1 alqueire. Eles existem e são muitos, mas entregam sua produção para terceiros e não têm poder de barganha em termos de preço, nem tampouco se beneficiam com tarifas de luz mais baixa, entre outras tantas coisas. Orgânicos ou não, eles oficialmente não existem. Ideologia é uma coisa, fatos são outra.

  17. Raquel diz:

    Achei bem legal esse texto. Eu me interesso bastante por esse assunto, pois quando penso em comer alimentos frescos o faço por uma questão de saúde. Infelizmente acabo sempre com a sensação de que se eu quiser algo seguro é melhor que eu mesma plante/ crie o que irei comer.
    Quanto ao produtor, meu sogro planta soja. Ele sempre diz como é dificil, que se fosse começar hoje não teria condições, que hoje para ganhar dinheiro precisa de quantidade. Por isso acho que deve ser muito mais dificil para um pequeno produtor e talvez, por limitações financeiras, ele acabe cedendo ao uso de produtos quimicos para salvar sua produção. Duvido que tenha algum orgão que realmente verifique se a produção é mesmo organica e principalmente, se é segura.

    • Marisa Ono diz:

      Pois é, Raquel, o produtor se submete aos preços do mercado. Com hortaliças acontece a mesma coisa. A diferença é que o produtor depende do resultado da produção mês a mês, não tem uma safra grande e não tem como estocar, aguardar preço melhor para venda, etc.

  18. Fabiano diz:

    Marisa, os seus argumentos contra os orgânicos são baseados em premissas que não são defendidas pelas principais linhas de agricultura orgânica. Sugiro que leia bastante sobre agroecologia e agricultura natural. Abraços

    • Marisa Ono diz:

      Para começo de conversa, parto da premissa que é impossível ter certeza de que um produto é realmente orgânico. E isso é incontestável. Num país onde se falsifica até medicamento, porque não iriam vender gato por lebre? E por mais que se alardeie que orgânicos são mais saborosos, isso também é altamente questionável, senão uma grande balela. Mantenho uma horta, sei das dificuldades em plantar sem o uso de pesticidas. Testo produtos ditos “orgânicos”. Na melhor das hipóteses, são ineficazes, como um bioinseticida que testei vezes repetidas. Na pior das hipóteses, não são tão atóxicos como muita gente pensa: cobre, enxofre e outros compostos podem sim prejudicar tanto quem manipula quanto o ambiente em geral. Mesmo o uso de esterco pode comprometer o solo, promovendo salinização do solo.
      De bem-intencionados o inferno está cheio. Oferecem um vegetal supostamente mais seguro, a grande questão é que é só para quem pode pagar. Os orgânicos são, sim, elitistas. Não posso concordar com isso. Vejo que a questão deve ser levada a outro nível: um ambiente mais seguro para o trabalhador rural, a legalização do pequeno produtor rural, que é responsável por boa parte da produção de hortaliças, sobretudo no entorno de São Paulo e orientação para quem trabalha na terra.

    • Marisa Ono diz:

      Para começo de conversa, parto da premissa que é impossível ter certeza de que um produto é realmente orgânico. E isso é incontestável. Num país onde se falsifica até medicamento, porque não iriam vender gato por lebre? E por mais que se alardeie que orgânicos são mais saborosos, isso também é altamente questionável, senão uma grande balela. Mantenho uma horta, sei das dificuldades em plantar sem o uso de pesticidas. Testo produtos ditos “orgânicos”. Na melhor das hipóteses, são ineficazes, como um bioinseticida que testei vezes repetidas. Na pior das hipóteses, não são tão atóxicos como muita gente pensa: cobre, enxofre e outros compostos podem sim prejudicar tanto quem manipula quanto o ambiente em geral. Mesmo o uso de esterco pode comprometer o solo, promovendo salinização do solo.
      De bem-intencionados o inferno está cheio. Oferecem um vegetal supostamente mais seguro, a grande questão é que é só para quem pode pagar. Os orgânicos são, sim, elitistas. Não posso concordar com isso. Vejo que a questão deve ser levada a outro nível: um ambiente mais seguro para o trabalhador rural, a legalização do pequeno produtor rural, que é responsável por boa parte da produção de hortaliças, sobretudo no entorno de São Paulo e orientação para quem trabalha na terra.

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