Washoku: Patrimônio Imaterial da Humanidade

Há alguns meses a Unesco reconheceu a cozinha japonesa como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Deixei de comentar na época, por diversos motivos. Um deles é que queria esperar a poeira abaixar. Ler o que foi escrito a respeito do assunto é outro. E ter um tempo para pensar no assunto.

Em alguns textos li que a cozinha japonesa merecia essa posição por ser saudável, equilibrada. Outro mérito é a sazonalidade, a conexão com os ingredientes e as estações.

Alguém disse – desculpe-me, perdi-me em tantos textos – que a experiência da verdadeira cozinha japonesa só é possível no Japão. Concordo em parte. Existem grandes cozinheiros no mundo todo, uns são conhecidos, outros não. Mas reconheço que muitas vezes oferece-se algo que está longe de ser japonês, sem falar na confusão de nomes de pratos e técnicas erradas.

Como o termo washoku é muito amplo, precisamos olhar desde a elegante cozinha kaiseki até a modesta refeição doméstica. Esta última, sim, tem passado por mudanças com mais vigor nos últimos tempos. A praticidade dos produtos industrializados, a falta de tempo, a crescente ocidentalização da dieta japonesa (sim, o japonês anda consumindo cada vez menos arroz) são alguns exemplos. Apesar do japonês se interessar e entender muito sobre comida, anda cozinhando cada vez menos, como por aqui. Talvez isso deva ser estimulado.

De tantas cozinhas do mundo, com suas características, seus modos de preparar e servir o alimento, com o seu combinar ingredientes, a cozinha japonesa se destaca não só pela aparência ou por ser saudável. Também não é a única que valoriza os ingredientes da estação. Não é nem mais a antiga, com mais história ou mais registrada.

Creio que a característica que distingue a cozinha japonesa de tantas outras é a exploração do umami. Embora existam muitos pratos do mundo inteiro ricos em umami, na cozinha japonesa esse gosto é conscientemente buscado, desejado e harmonizado com o salgado, o doce, o azedo e o amargo. O dashi (que pode ser de peixe, alga, cogumelos, etc) está presente em quase tudo que é cozido. Aliás, essa é uma das diferenças entre a cozinha japonesa e a cozinha nikkei daqui. Por conta do preço dos ingredientes ou até mesmo pela raridade, o dashi é utilizado com bem menos frequência, sendo substituído pela água, caldo de frango, caldo industrializado ou por uma pitadinha de glutamato monossódico.

 

 

 

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5 Responses to Washoku: Patrimônio Imaterial da Humanidade

  1. Bruno diz:

    Olá Marisa, você teria algum livro sobre culinária japonesa bom para indicar? Obrigado.

    • Marisa Ono diz:

      O melhor de todos é o Japanese Cooking: A Simple Art de Shizuo Tsuji, em inglês. Todas as técnicas estão lá. Quase nenhuma foto.

  2. Bruno diz:

    Eu tenho esse. Realmente, poucas fotos. Muito obrigado. Parabéns pelo blog!

  3. Tadeu diz:

    Marisa, queria saber mais sobre gohan, qual marca vc usa, qual já usou, a diferença do gohan japonês (importado), modo de preparo, panela elétrica e etc..

    Que eu tou usando Mirokumai grão curto, gordinho, para sushi e para gohan mesmo eu tou numa fase de experimentar outras marcas.. Yanagi, Guin, Momiji, Omiyague e etc.. Mas estou perdido, a vendedora disse que todos são bons rsrsrs, me ajuda! (uso um Zojirushi)

    • Marisa Ono diz:

      O Momiji já tem safra nova, que é um arroz com um aroma bom. Mas essa questão do arroz é meio complicada, mesmo no Japão existem variedades mais indicadas para sushi e outras para onigiri, por exemplo. O arroz japonês e mesmo o californiano é bem diferente, outra textura. No Japão eu consumia muito o Koshihikari de Shizuoka e o Akita Komachi. Não gostava no Sasanishiki. Hoje existem muito mais variedades, estão desenvolvendo cultivares novos, inclusive para a produção de farinha de arroz.
      Cozinho em panela elétrica que usa a tecnologia de indução (IH). É cara por aqui, mas tem um cozimento um pouco melhor que as mais antigas, que têm uma resistência no fundo.

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