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Arroz Novo

Quando morava no Japão aguardava o final do verão com uma certa ansiedade. O outono por lá tem produtos deliciosos. Começa com pêssegos brancos suculentos e perfumados, segue com peras e maçãs deliciosos, peixes gordos, bons para grelhar. Eu ia do mais popular e barato, o sanma, peixe de corpo longo e roliço, que custava menos de um dólar cada um.

E ficava de olho nas embalagens de arroz.

Os japoneses adoram arroz novo. Cozinha com menos água, tende a empapar se não tomar cuidado mas tem um aroma leve, sem cheiro de farelo e o sabor é mais adocicado. Durante uns 3, 4 meses ele tem essas características, depois vai se perdendo. Dizem que o arroz se conserva melhor se mantido na casca e descascado perto do consumo. Por lá existem lojas que vendem assim. Você escolhe o arroz e eles descascam na hora. E ainda pode levar o farelo para casa, que é utilizado para fazer conservas ou até mesmo para o banho (banho com leite de farelo de arroz deixa a pele muito macia, existem até produtos cosméticos à base dele). Quando a safra nova começava a ser comercializada, vinha uma etiqueta na embalagem avisando, em ideogramas vermelhos: Shinmai.

Por aqui o arroz velho é o preferido, não? Ele empapa menos, rende mais, sobretudo o agulhinha. Curioso como dois povos preferem o arroz em pontos e com características tão diferentes.

Para mim é difícil explicar porquê gostamos tanto de arroz. Arroz é sinônimo de refeição. Uma tigela cheia dele com uns pedaços de conserva (tsukemono) já me bastam. Modelado em forma de um bolinho, com um pouco de sal, é a coisa mais reconfortante do mundo. Gripada, a papinha só de arroz bem cozido e sal (e talvez uma ameixa azeda) me alimenta, hidrata, aquece. Houve uma época que reduzi muito o consumo de arroz. Mas não durou tanto, voltei a ele e descobri que não posso viver sem.

Foi como voltar para casa. Desde os meus 3 meses de idade vivi em lugares diferentes. Às vezes achava que iria ser meu lar definitivo. Foram 17 endereços diferentes até agora, 3 Estados, 3 Províncias japonesas, 7 cidades. Não tenho a ideia de uma terra natal, não tenho sequer um objeto que guarde desde a infância. Talvez por isso tenha me apegado tanto a pratos, à comida. Os lugares? Não voltei a muitos e alguns não me trazem tão boas lembranças quanto uma tigela de arroz quente.

Ontem comi arroz novo Yanagi Koshihikari. Mandaram-me uma amostra dessa última safra e estava tão bom que minha mãe repetiu. Creio que estará em breve nas mercearias.

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