Morei em Matsumoto, na província de Nagano por apenas um ano. Trabalhava a 25 km, na cidade de Akashina. Apesar da distância (difícil de vencer em noites de neve), a paisagem era estonteante: montanhas, picos cobertos de neve, o rio correndo à margem da rodovia, muito verde e vida animal (sobretudo aves) presente. Em Matsumoto existe um dos mais belos e bem preservados castelos de todo Japão.
Na época que morei lá, eu era recém-chegada, ainda adaptando-me com o idioma, cultura e hábitos. Hoje, provavelmente, teria aproveitado mais. Lembro-me de suas maçãs, deliciosas. E garanto, não é a mesma coisa comprar as maçãs de Nagano em outra província. A maçã fresca, que não passou pela estocagem em alguma câmara frigorífica, é muito mais saborosa. Só que não é consumida assim que colhida, mas uma semana depois. Ela possui um certo tanino que diminui com o tempo. Compete com as maçãs de Aomori em qualidade e preferência. A província também produz uvas, pêssegos e peras de qualidade.
Nagano também é uma das poucas províncias do Japão onde se é possível consumir carne de urso. Os animais são criados em cativeiro para esse fim. Para nós, brasileiros, pode parecer um absurdo, mas na época do meu pai – coisa de 70, 80 anos atrás- a caça era permitida. Isso não significa que o urso era alimento rotineiro, já que caçar um requer muita coragem e perícia. Na época que morei lá, não sabia disso.
Longe do mar, os peixes de rio são mais presentes, como o ayu. Outra fonte de proteína não insetos assados e caramelados. Apesar de garantirem que são saborosos e nutritivos, das poucas vezes que tive a oportunidade, confesso, recusei. Hoje, talvez tentasse.
Por ser uma região rica em montanhas e bosques, os moradores de Akashina costumavam procurar cogumelos selvagens. Essa tarefa, porém, requer um bom conhecimento das espécies, porque existem várias que são venenosas. Quase todo ano ouve-se falar de um acidente desse tipo, sem falar que é fácil alguém perder-se e até mesmo, desaparecer. Existem passeios com guias para caçar o famoso matsutake, cogumelo de aroma intenso que, até agora, resistiu às tentativas de cultivo.
Dos lugares que morei, Matsumoto e região foram os únicos lugares onde ainda havia o hábito de fazer conservas (tsukemonos) em casa. Existiam lojas que vendiam tudo para faze-las; potes, vegetais, sal, peso, etc. Nas outras cidades, boa parte da população preferia comprar nos supermercados e lojas especializadas. Lá, para minha surpresa, vi tsukemono de chuchu.
Mas, para a maioria dos japoneses com quem convivi, falar de Nagano, é falar de esportes de inverno, termas (onsen) e soba. Por conta da altitude e frio, dizem que a espécie cultivada lá, que rende grãos menores, é mais saborosa. O touji soba é uma maneira interessante de comer o soba: o macarrão é cozido e reaquecido em um cesto que é mergulhado em um caldo quente.
A foto que ilustra este post é do Rakuten.

Olha só, minha mãe faz de vez em nunca tsukemono de chuchu! Eu nem me lembro do gosto, mas lembro de ter provado…
Beijos, Cris Yumi
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Eu comi tsukemono de chuchu no misso (melhorzinho), só no sal (com um gosto de verde), curtido no caldo do umeboshi (azedo, claro, mas gostoso, cortado fininho) e uma conserva de origem chinesa, com muuuuita pimenta e óleo de gergelim.
Em Shizuoka, alguns japoneses conheciam o chuchu (com outro nome, que agora foge da memória), mas desapareceu com a mudança de hábitos alimentares pós-guerra.
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