Viva a baixa gastronomia! Hoje foi dia de relembrar tempos passados. Não são poucos que torcem o nariz para a torta de liquidificador (e até com certa razão; não gosto da textura borrachenta das tortas que experimentei e costumam ser pesadas como um tijolo). Mas comemos o nosso tempo e esse tipo de lanche tem seus motivos para existir.
Outro dia estava vendo uma reforma e a senhora explicou que a dispensa ficava no quarto. Mostrou o lugar. Durante tempos aquele canto era cheio de latas de óleo, goiabada, marmelada, conservas. Ri, lembrando que eu mesma pegava meu salário no meio da década de 80 e gastava tudo que podia em mantimentos e produtos de limpeza. A inflação era galopante e se eu esperasse, acabaria com um poder de compra para lá de reduzido até o final do mês. Depois vieram planos econômicos, congelamento de preços e produtos desaparecendo dos mercados. Quem podia, comprava um freezer e estocava comida. Quem não podia, comprava enlatados.
Antes disso, depois da Segunda Guerra Mundial, o Brasil era outro país. Geladeiras eram um luxo e não haviam tantos supermercados assim. Sempre tivemos umas latas guardadas em casa, para o caso de uma emergência, uma visita inesperada. Resumindo: gostemos ou não, enlatados fazem parte da nossa cultura, devido a momentos históricos, políticos e econômicos, além do fato de termos um território extenso. E entre os sabores da minha infância e juventude, sempre teve uma latinha de sardinha ou atum, um extrato de tomate, uma fiambrada…
Por fim, como disse acima, não gosto da textura de muitas tortas de liquidificador. Prefiro esse bolo salgado, que é leve, fofo e macio. Rende uma assadeira 25X20 cm.
2 gemas
70 gramas de manteiga
70 ml de óleo
100 gramas de amido de milho
240 gramas de farinha de trigo
250 ml de leite
1 colher de sopa bem rasa de fermento em pó
2 claras batidas em neve
Sal à gosto
Farinha de rosca e manteiga para untar a forma
Bata as gemas com a manteiga, o leite e o amido. Adicione a farinha, o fermento e o leite e misture. Talvez seja necessário mais ou menos leite. Adicione as claras em neve e misture sem bater.
Unte a assadeira com manteiga e polvilhe farinha de rosca. Despeje metade da massa.
Para o recheio, usei atum em lata escorrido, ovos cozidos, azeitonas e cebolas refogadas. Mas qualquer recheio não muito molhado irá funcionar bem.
Despeje o restante da massa sobre o recheio, ás colheradas. Salpique mais farinha de rosca (ou queijo ralado) e leve ao forno pré-aquecido, moderado, até corar. Teste com um palito se está assado.
Baixa gastronomia, tô dentro!!! Post perfeito para o Carnaval! Nesse feriadão, seu bolo salgado se juntará ao seu pão de minuto e aos cookies da Valentina, que fiz no domingo e gostei bastante.
Minha prima costuma fazer uma cama de rodelas de ovos cozidos para o recheio da torta de liquidificador. Fica bom, permite um recheio mais molhadinho sem deixar a parte de baixo horrenda e a torta fica com mais “sustância”. Faço sempre que sei que a torta vai ser consumida rapidamente – e portanto não vai precisar ir ao freezer.
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Essa massa até que suporta um tomate (não muito maduro) picado. Também fica bom com queijo ralado por cima.
E a cada dia eu não vejo lá grande diferença entra alta e baixa gastronomia…
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Olha, pra quem a-do-ra comidinha de botecos como eu, esse seu bolo é coisa de médio-alta gastronomia,rs. Amarrando à idéia do que vc disse, eu tbém não vejo o abismo entre a alta e nem baixa. Tem alta cozinha recuperando ou redescobrindo a baixa, remodelando-a para algo refinado. Há tbém botecos que pegaram pratos sofisticados e os pupularizaram tbém. No final, o que descobrimos é que a economia estabilizada acabou democratizando os paladares diminuindo a diferença entre alta e baixa. Bom sainal, não é mesmo?
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É, LuMa. Eu não costumo filosofar sobre comida, apesar de estar ciente de que alimentar é apenas uma das funções dela (presentear, agradar, demonstrar status, etc).
Na minha opnião, ainda existe uma certa resistência em ver a comida brasileira como digna de ser apresentada como alta gastronomia. É até natural, estamos acostumados a comer de uma certa maneira e ver pratos tradicionais apresentados de outra forma e custando, muitas vezes, muito mais caro do que estamos habituados a pagar.
A outra mão do movimento existe há bastante tempo. Dos palácios migrou para os grandes hotéis, restaurantes e muita coisa desceu do salto e já está andando de chinelinho havaiana.
A diferença entre uma e outra, para mim, está no “puro no kotsu”, que seria a destreza, a habilidade, perícia de um profissional talentoso, que se traduz em um prato surpreendente e difícil de se reproduzir.
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No último parágrafo vc resumiu tudo. Sou apenas uma ‘comedora’ amadora, mas creio tbém que o preparo de uma simples coxinha pelas mãos de quem possui o ‘kotsu’de um profissional, e ainda o faz com esmero, não deveria sofrer a tal distinção, ou seja, de categorização. A propósito, vou tentar seguir a receita deste bolo neste final de semana. Abraços!
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Marisa
Achei sua receita muito interessante. Será que posso misturar o recheio na massa ao invés de usá-lo em camada?
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Não recomendo, Elisabete. A textura do bolo é fofa e misturando o recheio, pode soltar água e deixar o bolo solado.
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Posso fazer essa torna com molho de salsicha, como se fosse recheio de cachorro quente,
Escorrendo bem o liquido?
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