Quando conheci o Ivan Ralston Bielawski e ele contou das ideias que tinha para o restaurante, confesso que achei que ele era muito romântico. Horta, pães feitos na casa, ir atrás de pescadores, produtores, tudo é muito bonito mas essa verticalização na produção exige muito esforço. Talvez ele seja mesmo um romântico mas fez o que pretendia. Fui ver a horta, levei umas mudas.
Ou hortas. Na verdade, todo espaço possível foi ocupado por plantas, inclusive a frente do restaurante. Tem um pouco de tudo, inclusive frutíferas, que estão indo bem, prova que hortas urbanas são possíveis. De certa forma me lembrou um pouco o Japão, onde as pessoas plantam em vasos, expostos na calçada, nas escolas e até mesmo dentro de edifícios.
Uma das plantas que eu não conhecia era essa azedinha, com nervuras vermelhas. Tenho uma, toda verde, que tem um aroma diferente desta, que é mais perfumada. Aliás, quem for ao restaurante pode ver a horta, há até um cartaz no fundo incentivando isso.
E a horta vai para o prato. Seja numa salada de folhas, flores, ervas e PANCs (plantas alimentícias não-convencionais, como beldroega, trevo, etc) ou em outros pratos. Por baixo, a surpresa de encontrar legumes grelhados (mini nabo, quiabo, mini-milho, etc) com um caldo quente.
Certamente vou errar, não anotei nada, estava lá para ter uma boa noite. O espaguete de pupunha com ouriço, lulas, ovo de codorna e um molho rico era delicioso. A entrada, que só tem foto no Instagram, era uma torrada com tutano e beldroega. Embora eu torça o nariz para beldroega (me lembra remédio), combinou bem, cortou a sensação de gordura do tutano.
As vieiras eram adocicadas, delicadas, vieram com um pouco de raspadinha cítrica. Frescor.
O peixe do dia era pargo, servido com tomate, banana e nhoques de abóbora. Se não me falha a memória, o molho era à base de cambuci.
O arroz mar e montanha combinava arroz com paio e lagostim. Muitos elementos em uma garfada.
Também teve feijão. Ou melhor, feijões. Com foie gras e uma pimentinha.
O churrasco era de wagyu, tinha um vinagrete, farofa de castanha e polenta frita. O inusitado era o molho bearnaise, delicioso.
Os queijos vieram e diverti-me pensando como fungos agem de maneiras diferentes sobre a proteína do leite. Basicamente, a mesma coisa e, ao mesmo tempo, distintos. Macios, suaves, cremosos, duros, picante.
A sobremesa, ah, a sobremesa. Para ser lembrada. Laranja e cachaça combinadas. Sorbet, laranja macerada, biscoitos crocantes e uma bavaroise tão leve, tão delicada que queria que não acabasse nunca. Não muito doce, nem com tanta cachaça a ponto de encobrir a laranja.
Ou a combinação de sorvete de café, bolo, mascarpone e crocantes de gianduia? A gordinha aqui amou.
Para finalizar, os mimos: bala de goma, bombom, macaron de erva mate que me remeteu ao de chá verde. Criações do chef pâtissier Rafael Protti.
As fotos dos pães da casa (brioche de abóbora, pão de azeitona, alecrim) e do corneto caprese que é uma bomba de umami (um cone com sorbet de tomate, queijo parmesão e um molho de manjericão) foram para o Instagram.
A cozinha é completamente aberta. Nada a esconder, literalmente. E apesar da comida ser tão cheia de detalhes, o salão é quase nu, o atendimento é atencioso, cordial mas sem afetação. Outra curiosidade do cardápio: limonada e chá gelado do dia.
Só funciona para jantar, recomenda-se fazer reserva, os dias mais tranquilos na região são terças e quartas. Fica na Vila Madalena (Rua Fradique Coutinho 1248, fone 011 2691-5548) e, se quiser ver mais, acompanhe pelo Facebook: https://www.facebook.com/tujurestaurante
O site deles é este: http://tuju.com.br/
Achei tudo gostoso, uma surpresa atrás da outra, em cada garfada ou bocado. O som estava num nível que não incomodava e havia muita coisa que a velha aqui reconheceu – muitos sucessos dos anos 80. Foi uma noite agradável, estava em boa companhia e foi até mesmo divertido.
E juro que paro de falar sobre lugares e volto a publicar receitas. Mas isso fica para amanhã ou depois.