Há muitos anos, quando era criança – e bem pequena – ganhei um pedaço de bolo de queijo. Não me lembro quem fez. Não foi minha mãe, certamente. Provavelmente alguém da vizinhança. Eu nunca havia comido um bolo de queijo. Era um bolo comum, macio, fofo mas com um aroma intenso de queijo. Ficou na minha memória esse aroma.
E a lembrança desse bolo foi e voltou, durante mais de 40 anos. Provei muitos bolos, alguns com queijo. Mas nenhum tinha aquele aroma. Tentei também alguns, usei parmesão, usei queijo do Reino (que era mais comum no Rio de Janeiro da década de 70 que o parmesão). Não, não era aquilo.
Hoje, correndo com o almoço, resolvi aproveitar que o forno estava ligado e fazer uns bolinhos. Algo para comer mais tarde ou no café do dia seguinte. Resolvi colocar um pouco de queijo ralado em pacote, daqueles, que são secos, que dizem que tem farinha e outras coisas misturada, que chamam de “xexelento”. Eu havia comprado para um teste – que não deu certo – e estava na geladeira há um tempo.
Assei. Tirei do forno e cheirei. Era o cheiro que eu procurava há anos. Pensando bem, fazia sentido. Na época morávamos em frente da transportadora onde meu pai trabalhava. Nosso bairro não era nem um pouco chique, embora a minha memória esteja cheia de fachadas trabalhadas, postes de ferro, azulejos azuis e outras coisas lindas. Os vizinhos trabalhavam também na transportadora ou eram aposentados. O bolo que provei havia sido feito com ingredientes simples e de fácil acesso.
Fica a lição para mim. Um prato especial nem sempre leva ingredientes especiais. Um prato especial na memória sempre será especial. Fiquei satisfeita com esse bolinho porque era uma lembrança que me acompanhou por muito tempo.
Reconheço que faço muitos comentários que não acrescentam nada para você. Mas as coisas que você escreve me dizem tanto que não resisto e comento assim mesmo. Eu tenho uma “busca” pelo bolo de coco de aniversário que minha mãe fez várias vezes quando meu irmão e eu éramos crianças e que certamente por ser bem mais simples e comum do que me parecia ser, ela não sabe me dizer que bolo era. Já tentei de toda forma e não fica igual. Quem sabe eu ainda acerte. Me lembrei do doce de infância do caseiro baiano que veio com o sítio que você comprou. Você acertou em cheio com a receita da mãe dele. Você merecia acertar com seu bolo de queijo.
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Cozinha emotiva nem sempre tem a ver com qualidade, foi isso que concluí. Criticar um gosto? Complicado, não? A gente não entra na cabeça das pessoas para saber que lembranças estão ligadas ao prato. E eu, como todo mundo, também estou sujeita às armadilhas da saudade.
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Lindo texto!
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Marisa, você consegue fazer de algo simples e cotidiano um lindo texto! Me emociona.
(não acrescenta nada ao comentário anterior, mas sempre leio seu blog pela página principal. Já abri a aba de comentários com isso na cabeça)
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