Eu estava ensaiando escrever sobre folhas de cerejeira já há algum tempo. Tudo porque a cerejeira daqui de casa soltou bastante folha nova e como nesta época do ano a incidência do sol é menor, elas estão mais macias. Essas folhas podem ser conservadas bom muito tempo em salmoura.
Confesso que não sei grande coisa sobre espécies de cerejeiras. Só sei que a que temos não dá cerejas e tem essas folhas largas, grandes. Temos uma outra, de folhas menores que dizem que são chamadas de “Okinawa Sakura”. Para saber como preserva-las, recorri ao chef Shinya Koike do Aizome. Ele disse para eu ferve-las até ficarem macias e depois passar por água gelada, escorrer bem, salgar e cobrir com salmoura forte. Fiz um pouco mais. Separei as folhas por tamanho e fiz maços de 10 folhas e fui empilhando em um pote. O aroma era mais intenso há duas semanas. Acho que o melhor mesmo é embala-las à vácuo depois de uns dias de salga.
E essas folhas são usadas em doces e salgados lá no Japão. E ultimamente estão usando também em doces ocidentais, como biscoitos, bolos e pães. Vou experimentar outras coisas com essas folhas, aproveitando a safra. Por enquanto fico em duas receitas bem tradicionais. O nome sakura mochi se refere a dois doces diferentes, um mais comum na região leste e outro, na região mais a oeste. Tive que fazer uma adaptação, já que não encontro por aqui o doumioji-ko. Trata-se de arroz glutinoso (mochigome) hidratado, cozido no vapor, seco e quebrado em pedacinhos. Parti do arroz glutinoso e o resultado foi bom.
Sakura-mochi Kansai-fu (à moda de Kansai)
280 gramas de arroz glutinoso (mochigome)
360 ml de água
3 colheres (de sopa) de açúcar
Corante alimentício vermelho – eu usei o em pó, japonês, diluído em um pouco de água
Folhas de cerejeira salgadas, lavadas e bem secas entre toalhas de papel
Lave e deixe o arroz de molho por algumas horas. Escorra bem em uma peneira. Coloque metade no processador de alimentos e utilizando a função “pulsar”, quebre um pouco os grãos. Não é para transformar em pó e sim, em pedacinhos regulares. Fiz o mesmo com a outra metade.
Cozinhei o arroz na panela elétrica com 340 ml de água. Assim que ficou pronto, virei em uma tigela, adicionei o açúcar e amassei levemente com o surigoshi (o pistilo do almofariz, o pau do pilão japonês). Se não tiver nada semelhante, use as costas de uma concha, também funciona. Não é preciso triturar com paixão, é só para misturar o açúcar e desenvolver um pouco mais de “liga”.
Adicionei gotas de corante. Com as mãos molhadas misturei para distribuir o corante. Ainda com as mãos molhas, dividi a massa em 15 porções. Também fiz 15 bolinhas bem menores, da pasta doce de feijão azuki (anko, usei koshi-an)
Depois é só rechear a massa de arroz com a bolinha de anko, dar um formato oval e enrolar em uma folha de cerejeira salgada.
Sakura-mochi Kanto-fu (à moda de Kanto)
6 gramas de farinha de arroz glutinoso
20 gramas de açúcar
60 gramas de farinha
100 a 120 ml de água
Corante alimentício vermelho (usei o em pó, japonês, diluído em um pouco de água)
Folhas de cerejeira salgada (eu prefiro lavar para retirar o excesso de sal) e bem enxutas entre folhas de papel-toalha
Misture a farinha de arroz glutinoso, o açúcar e a farinha de trigo. Adicione a água aos poucos. Passe por uma peneira e deixe descansar por pelo menos 15 minutos.
Aqueça uma frigideira com revestimento anti-aderente e passe um pouco de óleo com um pincel ou papel toalha. Despeje cerca de 2 colheres de sopa da mistura e espalhe com as costas de uma concha pequena, formando uma panqueca fina. Talvez seja necessário acrescentar um pouco mais de água para que a massa fique mais fluida. Também é possível que você estrague uma ou duas até encontrar a temperatura correta.
Não deixe cozinhando demais. Trabalhe sempre com fogo baixo e, caso esquente demais, retire do fogo. Vire e termine de cozinhar do outro lado, isso leva apenas alguns segundos. O resultado será um disco liso, sem dourar.
Recheie com anko, deixando a parte mais lisa para fora. Pode ser enrolado como uma panqueca ou ter as laterais dobradas como um pacote. Envolva com uma folha de cerejeira salgada.
triturar com paixão não pode? Vejo uns videos de mochitsuki; se tivesse a cabeça de certas pessoas lá, eu faria com muita paixão.
Procura umas receitas em que a gente pode fazer com paixão.
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Rodolfo Magalhães, leia o texto INTEIRO. Sakura Mochi é um tipo diferente de doce, não é feito com a massa de mochi.
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As folhas de cerejeira podem ser substituídas?
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Não, porque aí não seria Sakura (cereja) mochi.
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Gostaria de saber como pode ser feito farinha de arroz glutinoso caseiro, na minha cidade só encontro motigome.
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Você pode deixar mochigome de molho por umas 8 horas, triturar bem no liquidificador com água suficiente e coar bem em um saco. Aí vai ter que ajustar a receita, porque essa massa vai pesar mais, porque vai conter um pouco de água. A dica é pesar o arroz cru e depois toda a massa triturada, para saber quanto de água ela absorveu.
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