Batata Frita

Quando comecei a frequentar a escola, no bairro do Catumbi, no Rio de Janeiro, conheci um novo mundo. Até então conhecia muito pouco além do pátio da transportadora onde meu pai trabalhava. Tinha como vista da minha janela o movimento dos caminhões, as oficinas e a garagem. Além, o morro. De vez em quando íamos até a casa de meus padrinhos, na Penha, passeios na praia do Flamengo, frango frito nas calçadas de Copacabana ou sorvete tomado perto do passeio público. Claro que naquela época a cidade era diferente. Para começar, chamava-se Guanabara…

Bem, além de conhecer outras crianças, via no caminho lojas, coisas, cores, sabores e aromas. Uma dessas lembranças é a de um senhor, que me esperava todos os dias com uma balinha. Chamava-o de “Vovô da Bala”. Nunca soube o nome, mas sei que morreu repentinamente.

Outra coisa que lembro era de uma fábrica de batatas fritas. Batatas fritas? Para mim era difícil acreditar que aquela coisa que serviam-me, geralmente cozida (e pior, amassada) podia ser crocante. Não vendiam em pacotes pequenos, creio que atendiam buffets, restaurantes, bares. As batatas saíam de lá em fardos. Nunca entrei na fábrica, passava pela porta. E ser uma das poucas orientais na cidade tinha lá suas vantagens. De vez em quando ganhava um punhado para comer voltando para casa. Defitivamente, algo na minha dieta foi corrompida naquela época.

Ah, quem lê deve de pensar que eu era uma criança muito comunicativa. Pelo contrário, era quieta. Mais que isso, não falava mais que 15 palavras o dia inteiro. Observava, via, lia, fazia contas, mas não falava. Como é que virei uma tagarela, não sei explicar.

Neste final de semana resolvi fazer batatas fritas. Ora, não era melhor comprar? Bem, as batatas estão baratas – já vi a R$0,85 o quilo. A vantagem de fazê-las em casa é poder controlar o óleo em que são fritas: soja, milho, girassol, canola, azeite? Fica a seu critério. E também dá para controlar a quantidade de sal. Eu prefiro menos sal – e não é por conta da pressão arterial, não tenho esse problema. É pelo gosto, mesmo, acho que o sal demais atrapalha o gosto. Por fim, fritas assim têm gosto de antigamente.

Para fazer as batatas, eu lavo, descasco e fatio fino. Uso um cortador de legumes. O meu tem uma regulagem que permite fatias finas ou um tiquinho mais grossinhas. As finas fritam mais rapidamente, já as grossas ficam mais durinhas… Depois de fatiadas, lavo com bastante água e escorro.

O passo seguinte é usar álcool. Antes usava álcool de cereais. Mas o fato é que não encontro com tanta facilidade. Na falta, pus em prática o plano B: usei vodka barata, mesmo. Despejei uma boa quantidade – não a ponto de afogar todas as fatias, mas que pudesse molha-las. Mexi, soltei as fatias. Fui escorrendo aos poucos e fritando. O resto ficava na bacia, com álcool.

Para fritar, usei uma panela grande e não enchi muito com óleo. Evitei colocar muitas fatias de cada vez. Um fogão feioso com boca de alta pressão é bem útil. Um fogão doméstico tem uma chama mais fraca e vai demorar mais. Neste caso, frite uma camada de fatias de cada vez, para que não grudem umas nas outras. Também evite mexer muito nelas até começarem a ficar firmes, porque as fatias enrolam, grudam e podem virar uma massaroca. Quando começar a dourar, mexa com cuidado, para que corem de maneira uniforme.

Eu preferi escorrer em uma peneira primeiro e depois passar para uma assadeira forrada com papel absorvente.

Depois é só salgar e comer. Ou guardar em um pote bem fechado.

Classifiquei como “Tira isso da Boca, Marisa!” porque sei que é junk, é altamente calórico, porém irresistível.

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11 Responses to Batata Frita

  1. Renata diz:

    também não falava muito quando criança, minha primeira professora achou que fosse muda :S, acho que é pela descendência oriental também, mas hoje…..
    e também faço as batatas como você, mas não coloco nada, e ficam super crocantes, dá até pra guardar, o dificil é sobrar pra guardar hehehe.
    beijos

    • Marisa Ono diz:

      Bem, primeiro achavam que eu tinha problemas na audição, na cabeça, enfim, o fato é que eu tinha problemas de fala, mesmo. Aliás, ainda tenho. Mas hoje, quando alguma palavra trava, dou risada da situação.

  2. Luciana de Morais diz:

    Olá, Márisa.
    Procurando por uma receita com espinafre no Google, para gastar a moita que não para de crescer aqui em casa, me deparei com você! Vou fazer hoje a quiche (e amei a idéia de deixar massa pré-assada no congelador) e assim que puder, a batata frita! Escrevo porque achei muito bacana seu espaço e, principalmente seu jeito de falar. Próximo, aconchegante, como a cozinha é pra mim. Um grande abraço e parabéns.

  3. Bia diz:

    Estou babando…. Como boa polaca, adoooooooooro batata. De qualquer jeito… Adoooooooooro batata frita, se pudesse comeria todos os dias…. Estão lindas as suas, dignas de “pacotinhos cheirosos de banca de rua” (daquelas que dificilmente conseguimos fazer igual em casa!). E se faltar vodka, use vinagre, deixa-as sequinhas também! Só não pode esquecer no molho, pois pega gosto…

  4. Dany diz:

    hunnnn… estas batatas estão mesmo com uma cara boa!!! tenho pavor de fritar batatas, pois nunca da certo,grudam tudo, as únicas que frito são aquelas compradas prontas- congeladas, que é so jogar na gordura bem quente e esperar dourar no ponto desejado… acho que vou tentar fazer essa,agora… o duro será guardar a vodka pra batata…rsrsrsr… adoro seu blog, e ele deveria estar listado nos de utilidade publica!!!amo cozinhar, e seu blog me ajuda ainda mais, é mto criativo, de facil entendimento, e com receitas bem diversificadas! parabéns!!!

  5. Rodrigo Mendes diz:

    Acabo de conhecer seu blog e qual não foi minha surpresa ao perceber que temos algo em comum: Nasci no bairro do Estácio, no RJ, próximo ao bairro do Catumbi, e, desde que nasci, sempre fui à Fábrica de Batata Popular (sim, Marisa, esse é o nome da fábrica de batatas fritas de sua infância, e existe até hoje). Primeiramente levado por meu pai, pois comprávamos tal batata para qualquer “festinha” de família, posteriormente nossa parada na fábrica de batatas passou a anteceder algumas idas à escola, nos dias em que havia festinhas de última hora (batata era o que levava!). Hoje em dia, já casado, sou eu quem, por muitas vezes, vou até a fábrica comprar os enormes sacos de batata frita pra algumas festas em casa e para receber meus pais. Como a vida é cíclica, tudo isso serviu de ensinamento, pois dentro de alguns meses serei eu a levar meu filho à Fábrica de Batatas Fritas Popular, repetindo a tradição.
    Forte abraço, com algumas lágrimas (consegui me emocionar).

    • Marisa Ono diz:

      Nossa, Rodrigo! De tantas coisas que se foram das minhas lembranças, sobrou a fábrica de batatas fritas! Não sabia o nome, só me lembro que fica perto da Igreja Nossa Senhora da Salette. Sempre via um senhor perto da porta, na volta da escola, isso faz tempo, 1970, 71, por aí. Daquela rua lembro de uma loja chamada “A Moreninha”, que vendia resfrescos. O balcão era lindo, com “torneiras” para os refrescos, coisa bem antiga, puxava-se uma alavanca e jorrava líquido.O refresco de coco, feito com a fruta fresca, assim como a laranjada, geladíssima, eram imperdíveis. Lembro até do copo, um cone de papel que se encaixava em um suporte de metal.

      Bem, naquela época eu não poderia imaginar que a vida me levaria para outros e tantos lugares, longe das casas com janelas estreitas e altas, longe das quitandas e padarias dos portugueses, longe das senhoras ciganas cheias de talco e, claro, longe da fábrica de batatas fritas. Quantas lembranças…

      Abraços.

  6. Fatima diz:

    Oi Marisa, ADOREI o seu blog e as suas crônica-receitas! Adoro batatas( melhor dizendo, adoro comer…). De qualquer modo! E as suas vem com esse indescritível sabor de infância, salpicado de lembranças trazidas pelo paladar. De vez em sempre darei uma passadinha por aqui, para “comer com os olhos”…

  7. Claudia diz:

    Que lindas lembranças e batatas!
    Viajei com vocês em silêncio.

  8. Telmo Morgado Ferreira diz:

    Nao te conheci e morei no catumbi nesta época que informou, bela lembrança da moreninha e seus refrescos , da bata frita popular e das ciganas que no domingo ficavam nas portas das casas quando eu e minha mãe íamos a igreja de N. Sá. Salette.

    • Marisa Ono diz:

      Eu morava dentro da Garagem Presidente, onde funcionava uma transportadora e servia de garagem para táxis, Telmo. Ainda sinto saudades dos refrescos da Moreninha, trincando de gelados. O meu favorito era de laranja. O de coco também era muito bom.

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