Outro Caracol Marinho – Zidona dufresneyi

Eu pretendia continua escrevendo sobre a Semana Mesa SP mas faço uma pausa para falar desses caramujos que comprei hoje. Creio que são os mesmos que o Alex Atala comentou na sua coluna na Prazeres da Mesa:

http://prazeresdamesa.uol.com.br/exibirMateria/4899/mar-do-brasil

Encontrei no varejão do Ceagesp a R$5,00 o quilo. Escolhi e trouxe o equivalente a R$6,50. Infelizmente não recebi muita informação de como cozinhar, exceto um “vá espetando com um garfo”. Deveria ter telefonado para o Edson Croce (do Shopping da Roça, que aliás, identificou para mim a espécie) ou lido o artigo, que recomendava purga-lo em água, sal e vinagre primeiro. Joguei em uma panela com água e sal, deixei por uns 3 minutos e tentei tira-los das conchas. Infelizmente não consegui tirar todos integralmente.

Outro pequeno inconveniente é que esse molusco solta uma “baba”.  Depois de retirado das conchas, voltei a cozinhar em água e sal e fui testando o ponto com um garfo. Não cozinhei por muito tempo, não, talvez uns 5 minutos.

Aproveitei apenas o “pé” do caramujo. Confesso que fiquei com receio e não experimentei as vísceras. Como ainda restava um pouco de “baba”, coloquei em uma mistura com água, sal e vinagre e deixei por algumas horas. Ocorreu algo um pouco curioso: o caramujo desbotou. Não que isso seja ruim, pelo contrário, acho até que ficou com uma aparência melhor.

Resolvi experimentar num su-miso: cortei em fatias finas, misturei vinagre de arroz e miso branco. Um pouco de cebolinha bem picada para dar cor e sabor extra. Não estou inventando nada, esse prato pode ser feito com sardinhas, polvo e até konnyaku. O caracol tem uma textura parecida com a do polvo e um sabor muito mais delicado. Por isso mesmo preferi usar o miso branco, que é mais jovem, tem um sabor mais suave e um pouco de doçura.

Aproveitando a textura e o sabor delicado, resolvi também fazer um baata-yaki: foi só saltear em manteiga e adicionar um pouco de shoyu. Cebolinha para enfeitar e o aspargo aí entrou de gaiato porque era o que tinha na horta. Comi com arroz. Poderia ter feito um ceviche. Poderia ter feito uma salada avinagrada, com pepino (um sunomono). Enfim, poderia ser aproveitado de várias maneiras. Se encontra-los novamente na feira, irei comprar para testar outras maneiras de prepara-lo.

Bem, quanto ao custo: de  1,3 kg, obtive quase 340 gramas de caramujo pronto para consumo. Ou seja, cada kg dele, limpo, ficaria em R$19,00, bem mais barato que um polvo, por exemplo.

Infelizmente, esses caramujos são pescados juntos com peixes ou camarões e não é raro serem descartados. Talvez alguma indústria use esse descarte para produzir adubo orgânico.

 

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15 Responses to Outro Caracol Marinho – Zidona dufresneyi

  1. christopher diz:

    É brincadeira né! Rio de janeiro cidade litoranea e em Sampa você encontra peixe muito melhor e muito mais opções de frutos do mar.

    • Marisa Ono diz:

      Sabe que não, Christopher? Muitas vezes o peixe que é comercializado em São Paulo vem de Santa Catarina. No Brasil não há o hábito de comer caracóis marinhos, mas no Japão é bem comum.

  2. christopher diz:

    Acho que não me expressei bem, eu fico indignado de morar no Rio e não encontrar frutos de mar de qualidade. Nem na feira e nem na peixaria.
    Nem o mercadão de Niteroi se salva.
    Acho que o mercadão de São Paulo é um pequeno paraiso.

    • Marisa Ono diz:

      Christopher, isso me deixa muito triste, sabe? Morei no Rio até 1974 e era possível caçar – literalmente, com as mãos – siris nas praias da Ilha do Governador. Camarão, à noite, não era raro e lembro que aquilo era um enorme berçário de peixes diversos, eu recolhia alguns, observava por uns minutos e devolvia ao mar em seguida. Não me lembro, mas meu pai dizia que não era raro ver jamantas. Com uma vara simples a gente pescava cocorocas, xereretes. E como havia ouriço! Mas soube que ainda na década de 70 houve um derrame muito grande de petróleo e que hoje em dia não dá para se pescar nada na baía de Guanabara. Me disseram também que no Rio falta uma central de pescado, como o Ceagesp.

  3. christopher diz:

    É triste e um absurdo.
    A maioria dos peixes que se encontra nào são tão mais frescos dos peixes que encontro no interior do Paraná.

    • Marisa Ono diz:

      Eu vi uma palestra com o Thomas Troisgros e ele explicou que as condições da pesca no Rio de Janeiro são medievais: muitos barcos não dispõe de refrigeração, muito do que é pescado chega em péssima condição e é descartado nos portos mesmo e o próprio método de pesca faz com que para cada kg de camarão, dezenas de peixes, moluscos, etc sejam descartados.

  4. christopher diz:

    Tem um restaurante japonês muito bom em copacabana, pra mim, um dos poucos que podem ser considerados como restaurante japonês aqui no Rio, porque o resto deveria ser restaurante TIPO japonês. O dono é japonês e disse que vieram estudantes do Japão fazerem pesquisas sobre o pescado no Brasil e um dos locais que visitaram foi o mercadão de Niterói, conclusão, nenhum deles teve coragem do comer peixe enquanto estiveram no Brasil.
    Tive uma professora na faculdade que disse que há estrutura para termos peixes de ótima qualidade mas que é toda voltada para a exportação.

    • Marisa Ono diz:

      Sim, Christopher, mais de uma pessoa me disse que muita coisa não chega aos mercados brasileiros porque são exportados. Apesar de se pescar muito tamboril, por exemplo, raramente vejo nas peixarias. Mesmo peixe de cativeiro é comercializado em péssimo estado, infelizmente. Comercialização do peixe ainda vivo, então, nem pensar, já que exige tanques, oxigenação, etc.

    • Marisa Ono diz:

      Sim, Christopher, mais de uma pessoa me disse que muita coisa não chega aos mercados brasileiros porque são exportados. Apesar de se pescar muito tamboril, por exemplo, raramente vejo nas peixarias. Mesmo peixe de cativeiro é comercializado em péssimo estado, infelizmente. Comercialização do peixe ainda vivo, então, nem pensar, já que exige tanques, oxigenação, etc.

    • Marisa Ono diz:

      Sim, Christopher, mais de uma pessoa me disse que muita coisa não chega aos mercados brasileiros porque são exportados. Apesar de se pescar muito tamboril, por exemplo, raramente vejo nas peixarias. Mesmo peixe de cativeiro é comercializado em péssimo estado, infelizmente. Comercialização do peixe ainda vivo, então, nem pensar, já que exige tanques, oxigenação, etc.

  5. Domingos diz:

    Conversando com um amigo português, fiquei sabendo que eles gostam muito de comer caracóis. Alguém saberia me dizer se há em São Paulo algum restaurante que os tem em seu cardápio? Pelo Google não consegui encontrar nenhum. Grato.

    • Marisa Ono diz:

      Domingos, pelo que vejo, a oferta desses caracóis é muito inconstante. No D.O.M eles serviam, mas foi o único que tive notícias.

  6. Ana Luiza diz:

    Oi Marisa! Pesquisando sobre espécies de moluscos para identificação de nosso acervo, cruzei com seu site e além de poder confirmar nosso exemplar, ainda encontro uma ótima dica de receita.

    Parabéns pelo trabalho!
    Abraços
    Ana

    PS: Mandei o link pro Toshi. <3

    • Marisa Ono diz:

      Mas a identificação não é mérito meu, é do Edson Croce. Ele tem uma coleção de conchas e mergulhou muito. Não é biólogo mas por amor e curiosidade, aprendeu um bocado sobre moluscos marinhos. Eu só tive sorte de conhecê-lo.

  7. Marisa Ono hoje consegui comprar la em Santos perto da balsa paguei 10 reais o quilo , vou tentar fazer da mesma maneira que você fez .obrigado pela dica da receita!!!

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