As pessoas andam muito apegadas à ideia de que o “natural” e o “selvagem” é melhor, é saudável. Nem sempre.
Preparem-se, que isso provavelmente será doloroso para muita gente.
Os oceanos acabaram virando uma grande lixeira do que produzimos. É para lá que vão muitos resíduos industriais, por exemplo. E muitos desses resíduos contém substâncias altamente tóxicas. Vamos ficar só no mercúrio.
O mercúrio vai parar nos mares, são absorvidos por crustáceos, que depois são comidos por polvos ou peixes que vão servir de alimentos para peixes ainda maiores. Um derrame de mercúrio não vai ser sentido de imediato. Para os humanos, o consumo de pescado contaminado com mercúrio pode levar anos para apresentar os primeiros sintomas, dependendo da quantidade ingerida e do tipo de pescado.
O Desastre de Minamata levou mais de 20 anos para apresentar suas primeiras vítimas fatais. Hoje são milhares de pessoas que sofrem com a intoxicação e estima-se que dois milhões estejam contaminadas.
Para quem quiser ler mais sobre o Desastre de Minamata e como o mercúrio chega à nós, tem este artigo:
http://www.engquimicasantossp.com.br/2014/04/desastre-da-baia-de-minamata.html
O problema é que o que aconteceu em Minamata está acontecendo em todo lugar. O mercúrio evapora, depois volta ao solo ou água sob forma de chuva. Peixes migram, alguns seguem correntes oceânicas e podem estar em lugares distantes em poucos dias. Ou seja, é difícil dizer se o peixe que está no seu prato está contaminado ou não. O mercúrio não apresenta sabor. Não vai fazer muita diferença se você consumi-lo cru ou cozido.
As concentrações de mercúrio variam muito mas há um padrão: peixes grandes e que vivem mais têm taxas mais altas, como o meca, tubarões e atuns.
Infelizmente o problema de contaminação pelo mercúrio não ocorre apenas nos mares. Aqui no Brasil, principalmente na região norte, temos outro problema: os garimpos.
A extração de ouro na superfície e em cursos d’água geralmente envolve o uso de mercúrio. Parte desse mercúrio é recuperado, mas outra parte é evaporada (ou seja, vai para o ar) e outra parte vai contaminar solos e cursos de água. A quantidade de mercúrio lançada no meio ambiente amazônico é incerta. Algumas estimativas apontam para cerca de 200 toneladas por ano. Claro que os garimpos não envolvem apenas o uso de mercúrio. A quantidade de detritos que é lançada nos rios também afeta os níveis de oxigenação das águas, exterminando fauna e flora local, entre outros tantos impactos. Mas como disse, por enquanto ficaremos só no mercúrio.
Para saber um pouco mais sobre o processo de extração de ouro e o uso do mercúrio, tem este artigo:
www.periodicos.ufpa.br/index.php/ncn/article/download/14/13
Novamente as concentrações de mercúrio são maiores em peixes que vivem mais e que são predadores, como no caso da dourada e do filhote. Apesar de ainda estarem dentro dos níveis permitidos pelos órgãos brasileiros, em alguns casos ainda assim é considerado alto. Volto a repetir, a contaminação por mercúrio pode levar anos para se manifestar.
Uma pesquisa feita com os peixes da região amazônica:
http://www.ablimno.org.br/boletins/pdf/bol_41_1-4.pdf
Portanto, vamos parar de repetir o mantra “o selvagem é melhor”? Porque tudo, tudo, tudo mesmo é muito relativo.
No caso do pescado, em geral, quanto menor, melhor. Peixes que vivem pouco e de menor porte como sardinhas ou tilápias são opções mais seguras, por exemplo, em relação a peixes maiores e predadores. E quanto ao mercúrio, na maioria das vezes, não há diferença significativa entre o peixe cultivado e o selvagem. No entanto, o cultivado, em muitos casos, tem um benefício extra: diminui a pressão sobre uma espécie que sofre com a sobrepesca ou seja, uma espécie sob risco, mas isso é um assunto para outro dia.
O consumo de peixes de grande porte deve ser restrito a poucas porções por mês. A quantidade varia conforme o seu peso; crianças devem receber porções menores e menos vezes por ano. Em caso de gravidez, a sugestão dos especialistas é evitar.
Valeu. A ausência de comentários diz tudo. Você enfiou o dedo na ferida e doeu muito!
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Obrigada, Mirian.
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