Espinafre D’água, Ipomea Aquatica

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Ganhamos as sementes. Minha mãe não sabia o que era e plantou na horta. Não crescia bem até chover (e como tem chovido!). Cresceu, deu talos e folhas viçosos.

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O talo não é sólido, é oco.

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A folha é longa e estreita. Ou seja, não se parece com um espinafre (e não é), apesar do nome. Pode ser encontrado nas mercearias da Liberdade.

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Experimentei de maneira bem simples: refoguei os talos mais finos e as folhas em óleo e alho. Sensacional. Depois de cozida, é macia e o sabor me fez lembrar as folhas de brócoli. Se encontrarem na feira ou numa mercearia, experimentem.

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Edson Croce

Estive com o Edson e a Val na última quinta. Fui lá no Shopping da Roça desejar um bom 2016 para eles e levar os maracujás roxos que ele tanto gostava e que raramente encontrava. Conversamos sobre plantas, sobre comida. Demos umas risadas, ele estava com um terrível dor nas costas.

E no começo da noite de domingo fico sabendo que ele se foi. De repente.

Algumas pessoas surgem nas nossas vidas para acrescentar. Com o Edson aprendi sobre caramujos marinhos, sobre carnes, sobre churrascos, sobre plantas frutíferas, soube de histórias de São Paulo, sobre a degradação do litoral brasileiro e outras tantas coisas.  A conversa era boa.

Não pude ir ao velório ou enterro. Para meu azar, meu carro atolou no quintal. Moro na região rural, deixo o carro ao lado da casa, sobre a terra batida que acabou virando um lodaçal com a chuva do final de semana.

Digam ou demonstrem sempre o quanto gosta de alguém. Pode ser a última vez que a verá.

 

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Tirei Férias…

Não, não é verdade. Estive trabalhando um bocado nos últimos dias, testando algumas coisas, fazendo a GRANDE FAXINA ANUAL (japoneses e descendentes entenderão, faz parte das atividades do final do ano; a casa tem que ser limpa e eu aproveito para organizar prateleiras), atendi a algumas encomendas, fiz alguns presentes comestíveis, li um pouco. Em breve comento os livros.

E também não estou postando muita coisa porque minha câmera está com um defeito, aparentemente o conserto irá sair mais caro que outra câmera. Estou com uma câmera limitada, esperando outra (comprei numa promoção e o preço era bem camarada mas a condição é de que a entrega poderia demorar 23 dias; foi o que o orçamento permitiu).

Mas este período foi bom. Entre livros, conversas e pesquisas, aprendi coisas novas, revi conceitos antigos, provei coisas.

Logo volto à rotina de publicar 2, 3 textos semanais.

 

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Natsu Yasai Karê. Ou Curry à Japonesa com Vegetais de Verão

CIMG0284É uma receita tão fácil que não sei porquê não publiquei antes. Como faz calor e a horta está produzindo algo, resolvi fazer esse curry quase vegetariano. É uma receita rápida, já que apelo para o preparado para curry japonês (que pode ser em flocos ou em tabletes). Aliás, eu não acredito em receitas de 15 minutos. Repararam que todas elas apelam para um molho pronto, vegetais já limpos ou congelados, sempre tem uma pegadinha? Pois então, essa é assumidamente rápida porque vai um produto semi-pronto. Mas se quiser fazer seu molho de curry, fique à vontade.

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Começo cortando vegetais de verão (abóbora japonesa, abobrinha, berinjela) em pedaços grandes e fritando em óleo quente. A berinjela roxelle, que é redonda, lilás, é a mais indicada, vai absorver bem menos gordura. Corto um tomate maduro em 8 pedaços e reservo.

Refogo cebola com alho até dourar bem, junto água, fervo, adiciono o preparado para curry (uso a quantidade suficiente para formar um molho espesso), confiro o sal, a pimenta e posso juntar um pouco de gengibre ralado. Por fim, adiciono os vegetais fritos, cozinho até aquecê-los e, no final, os tomates. Eles não são cozidos, só aquecidos.

Sirvo com arroz branco. Posso servir também uma colherada de iogurte bem azedo. Crianças japonesas preferem maionese (sim, é estranho mas é popular) e queijo tipo mussarela ralado. Também gosto com um ovo frito.

O prato não é vegetariano porque os preparados para curry costumam ter caldo de carne na composição.

Vai para a categoria “Cozinha do Desespero” porque fica pronto em 20 minutos, apesar da pequena trapaça.

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Como Foi o Aizomê Ichiba

Foi uma loucura. Simplesmente assim. Foi muito mais gente que eu esperava, mais cedo do que o esperado. Estava muito quente. Gastei todo o meu japonês com as japonesas (é, quem faz compras na família japonesa ainda é a esposa), no começo tropecei mas em dado momento até que isso fluiu melhor do que eu esperava. Só consegui oferecer pães e defumados para degustação depois que a Sonia Yuki Yamane foi me ajudar. Foram-se os doces, foram-se os missôs, foram-se as conservas. E até apareceu alguém querendo comprar a faca que eu estava usando!

Antes das 14 horas havia vendido quase tudo. Só ficaram umas verduras, já cansadas do calor.

Perdoem-me por não ter podido dar atenção merecida, amigos só receberam um aceno, gostaria de ter podido explicar com calma sobre as diferenças dos missôs, sobre o simbolismo do daifuku, não deu.

Muito obrigada a todos que foram. Espero que tenham gostado do que levaram para casa e do que provaram. Obrigada pela paciência nas filas, tolerância ao calor que fazia e por desconsiderarem minha falta de traquejo social.

Muito obrigada à Telma Shimizu Shiraishi pelo convite, à Sonia Yuki Yamane por ter me socorrido enquanto eu nadava, ao Alexandre Tatsuya Iida pelas sacolas que roubei dele (aprendi, vou levar sacolas de tamanhos diferentes em outra vez), muito obrigada a todos que ajudaram na divulgação. Amigos, fiquei feliz de vê-los mas ficarei mais feliz quando puder encontra-los em um dia mais calmo, de preferência em um lugar com bebida gelada e uma cadeira boa para sentar.

Semana que vem vamos fazer mais missô, o estoque doméstico zerou.

 

 

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Kokumi

Depois do umami, agora é a vez do kokumi. Guardem essa expressão japonesa.

Para o japonês, é algo óbvio. Para traduzir em palavras, é um pouco complicado, mas vamos ver se consigo.

Um prato com kokumi tem um sabor e aromas equilibrados mas com persistência (que o umami oferece) mas também com corpo, complexidade. Por exemplo, uma carne de panela feita com cebolas bem douradas, carne tostada, cozida lentamente. Os sabores da carne, temperos, sal, um toque levemente amargo do tostado, proporcionam uma sensação bem mais agradável e complexa que um ensopadinho feito de última hora (embora também seja gostoso!). Kokumi não é sinônimo de “gostosura”.

Podemos sentir o kokumi também em alguns chocolates e queijos, por exemplo. Um bom caldo de lámen também tem kokumi. Geralmente associamos o kokumi a sabores fortes, pratos encorpados mas também está associado a bebidas como chás e cervejas.

As indústrias de alimento estão pesquisando e desenvolvendo produtos com mais kokumi. Até onde sei, ainda há muito a ser entendido sobre o assunto mas, até o momento, identificaram 3 aminoácidos que estão relacionados ao kokumi. Não se assustem com os nomes, são substâncias que se encontram nos alimentos e até no nosso corpo: glutamina, valine e glicina.

Esta velha cozinheira tem uns recursos na manga para aumentar o kokumi dos pratos:

Quando a cebola está a preço bom e eu tenho tempo, faço um monte de cebolas douradas, carameladas (mas não queimadas!) e congelo. Basta fatiar e refogar as cebolas em uma frigideira com um pouco de óleo por muito tempo, até ganhar uma cor amarronzada. Umas gotas de água no fundo da frigideira para ir dissolvendo o açúcar das cebolas que vai queimando no fundo no final. Isso vai em ensopados, cozidos, molhos.

Um pouco de café amargo em um ensopadinho ou cozido de carne. Não precisa ser café gourmet, qualquer café serve. Mas não muito. Não é para ficar com gosto de café, é só para ter um sutil amargor.

Um pouco de chocolate amargo no karê (curry japonês). Dá cor, aroma, aquele amargor leve, complexidade.

Cozinhar com vinho ou cerveja também.

Engrossar um molho com farinha bem tostada em um pouco de manteiga.

Umas folhas de salsão (guardo as folhas lavadas em um pote, no congelador) em uma sopa, caldo ou ensopado. As folhas não têm um sabor nem um aroma tão intenso e uso pouco.

Confesso, era fã de um demi glace enlatado que encontrava nos supermercados japoneses. Transformava qualquer carne de panela em um “beef stew”, parecia que a comida tinha sido cozida por horas. Não encontro aqui e, convenhamos, não é todo mundo que tem tempo de fazer um em casa.

Molho de salada com pasta de amendoim. Imbativel, é só misturar pasta de amendoim com um pouco de água, shoyu ou miso, pimenta se gostar.

 

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Aizomê Ichiba

Aizome Ichiba

Guardem o dia 12 (sábado). Nesse dia estaremos no restaurante Aizomê (Alameda Fernão Cardim 39) com muita coisa gostosa para comer no local ou levar para casa, na primeira edição dessa feira.

Estarão lá:

Alexandre Tatsuya Iida da Adega de Sake com bebidas (óbvio, não esperavam que ele levasse sorvetes Melona, certo?)

Monica Fuentes Kikuchi com atuns muito especiais

Telma Shiraishi e Victor Iwamoto do Aizomê com sushis e pratos

Vivianne Wakuda com seus doces leves e com inspiração japonesa

E eu, claro, com um pouquinho disso e daquilo. Vou levar missôs, conservas, folhas de sansho (kinome) e vai haver degustação de alho negro e umas surpresas.

Vai ser das 11 às 16 horas, será um sábado. Para quem for de metrô, fica perto da estação Brigadeiro.

Não, não é necessário reserva, é só chegar.

Creia, não é tão fácil juntar essa turma toda no mesmo dia e no mesmo local. Uma rara oportunidade para conhecer produtos, saber mais sobre a cozinha japonesa, conversar e comer.

PS: Me perguntaram sobre valores. Não foi definida uma faixa de preço, mas vai haver muita opção.

 

 

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Pão e Linguiça

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Que tal aprender a fazer um pão de fermentação natural sem complicação? E enquanto o pão cresce e assa, aproveitamos o tempo enchendo linguiça – literalmente. Uma receita bem simples de linguiça que pode ser personalizada à seu gosto.

No final, come-se pão, linguiça, salada, um chá gelado e um doce para finalizar. E levam para casa os pães que sobrarem, as linguiças do dia e uma amostra do fermento para fazer mais pão em casa.

Dia 13, das 10 horas às 14 horas, aqui em casa.

Restam 2 vagas. Contato pelo e-mail marisaono@gmail.com

 

 

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Semifreddo de Manga

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Semifreddo é gelado mas dá para ser chamado de sorvete? Para mim, está mais para uma mousse congelada. É uma sobremesa aerada, feita com ovos (vi algumas versões só com claras) e muito creme de leite batido, por isso não fica duro, como um picolé.

3 ovos

2 gemas

220 gramas de açúcar

500 ml de creme de leite fresco

2 colheres de sopa de açúcar

1 1/2 xícara de purê de manga (descasque, pique e processe a polpa manga madura, usei do tipo Tommy; a quantidade vai depender do tamanho das mangas).

Prepare uma tigela com água fria e deixe de lado.

Bata os ovos e as 2 gemas com 0 açúcar em uma tigela de metal até espumar.

Coloque essa tigela sobre água quente, quase fervente e continue batendo até formar um creme claro e engrossar um pouco.

Imediatamente coloque a tigela dentro da outra tigela com água fria, para esfria-la e evitar que a mistura de ovos talhe.

Enquanto a mistura de ovos esfria, bata o creme de leite.

Junte as 2 colheres de açúcar e continue batendo até virar chantilly.

Misture o creme de ovos com o purê de manga, com a ajuda de uma espátula, sem bater.

Adicione o creme de leite batido e misture novamente, com movimentos de baixo para cima, sem bater.

Despeje em uma forma de bolo inglês ou uma forma retangular.

Leve ao congelador até que fique bem firme. Se utilizar uma forma de bolo inglês, sirva em fatias. Numa forma retangular, pode servir em quadrados.

Rende umas 12 porções.

PS: Não testei, mas creio que funcionaria com outras frutas ou com pedaços de frutas.

 

 

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O Primogênito (E Os Outros Filhos)

O texto de hoje não é sobre comida, mas sobre um aspecto social e cultural da família japonesa. Não vai ser uma leitura muito agradável. Na verdade, será um tanto quanto incômoda.

O primogênito, não raramente, era o único herdeiro, em diversas culturas. Não era diferente no Japão. Caberia a ele manter o sobrenome da família vivo e o patrimônio, caso houvesse.

Era natural que ele recebesse atenção especial. Akio Morita comentou que ele tinha um quarto só para ele e outras regalias. Em famílias com menos recursos, ele seria o único a frequentar uma faculdade, por exemplo. Também seria desobrigado de tarefas domésticas, para ter mais tempo para estudar, por exemplo. E provavelmente andaria melhor vestido que seus irmãos.

Em outras épocas, também seria melhor alimentado, teria uma porção de arroz e peixe maior que seus irmãos mais novos.

E como era a vida dos irmãos mais novos?

Dependeria muito da condição social da família. Em famílias com menos recursos, os irmãos mais novos teriam pouco estudo e trabalhariam desde tenra idade. Em muitos casos, poderiam ser vendidos.

Sim, era uma prática bem comum até o final da Segunda Guerra Mundial (embora ainda fossem relatados casos depois disso). As famílias vendiam seus filhos mais novos e eles iriam trabalhar em fábricas de vidro, siderurgias, tecelagens ou trabalhar como empregados domésticos. Poderiam trabalhar por um ano ou até completar a maioridade, dependia do acordo e do valor recebido. A maior parte dessas crianças tinha menos de 14 anos de idade. Para as meninas, o destino poderia ser ainda pior: poderiam ser vendidas a prostíbulos, de onde sairiam doentes ou mortas.

Essa prática japonesa veio para o Brasil com os imigrantes. Sim, é um choque, não? Mas nesses 50 anos de vida, ouvi e vi muita coisa. Conheci algumas pessoas que foram entregues à familiares, trabalharam como empregados domésticos a troco de casa, comida e escola. Alguns trabalharam na agricultura ou em oficinas, pequenas indústrias, também a troco de um teto.

E em muitas, muitas famílias, vi o primogênito receber toda a atenção, todos os recursos da família. Vi alguns filhos mais novos não terminarem seus estudos, desestimulados pela própria família, pressionados a trabalhar cedo e ajudar nas despesas familiares porque “quem não trabalha, não come”.

O primogênito geralmente é apresentado como o mais inteligente. Os filhos mais novos, são burros. Bullying começa em casa. Não raramente, o filho mais velho tratava os mais novos como empregados ou seus escravos particulares.

Alguns jovens fugiram de casa, romperam com a família.

Mesmo no Japão de hoje, vi que o primogênito ainda goza de prestígio. Alguns tentavam justificar, dizendo que caberia a ele cuidar dos pais quando eles ficassem velhos. No entanto, nem sempre isso acontece. Em alguns poucos casos extremos, soube que os pais foram expulsos da própria casa.

Pouco se fala sobre isso. A imagem que muitos têm da família japonesa é de harmonia, com crianças bem cuidadas e educadas. Para mim, o amor maternal/paternal é algo mais cultural que natural, biológico, orgânico. Aparentemente, o japonês sofre calado. Talvez isso explique alguns casos de suicídio por lá. Crescer sendo tratado como um indivíduo de segunda classe não é para qualquer um.

Obviamente, não estou dizendo que isso acontece em todas as famílias japoneses e nikkeis. Mas que é mais comum do que se pode imaginar, isso é.

Para quem quiser saber mais sobre o assunto, sugiro que assistam à novela “Oshin”. É da década de 80, creio eu. É longa, triste, dolorosa mas bastante real.

Para ler, The World of Child Labor: An Historical and Regional Survey de Hugh D Hindman e Hugh Hindman.

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