Porco ao Gengibre (Buta Shogayaki) do Desespero

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Bem, pausa nos livros, ingredientes, simpósios. Voltando para a cozinha e receitas.

Buta no shogayaki ou porco refogado com gengibre já é rápido e fácil de fazer. Mas a dica aqui é deixar o molho pronto na geladeira (dura um mês num pote) ou congelar porções.

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Para o molho basta triturar no liquidificador um dente de alho, um pedaço de gengibre sem casca (mais ou menos uns 5 cm ou mais, se gostar), 1 cebola média, 1/2 cenoura média, 4 colheres de shoyu, 4 colheres de sake (ou um vinho branco não muito seco, caso não tenha) e 4 colheres de mirim (ou um pouco de açúcar). Depois de bem batido, leve ao fogo em uma panela e ferva em fogo mínimo por 5 minutos. Pronto.

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Para o shogayaki, refogue cebolas cortadas em pétalas em um pouco de óleo, até amaciarem.

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Junte à frigideira fatias finas de carne de porco (prefiro barriga mas funciona com pernil). Refogue até perder o rosado.

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Junte um bocado de molho, que seja suficiente para envolver tudo. Misture e refogue.

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Refogue até ficar bem aquecido. Não deixe secar o molho nem queimar.

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Costuma ser servido sobre uma cama de repolho em tirinhas. Mas nesse dia servi em tigelinhas, acompanhado de arroz e uma salada de pepino.

Não experimentei com frango em tiras, mas creio que ficaria bom. Porco em fatias finas costuma ser encontrado em mercearias orientais (em bandejas, congelado). Pode ser fatiado em casa mesmo, com uma faca bem afiada. Para quem tem fatiador de frios, é melhor congelar a carne primeiro porque o disco aquece demais e cozinha a carne.

Outra versão de buta shoga-yaki eu publiquei aqui:

http://marisaono.com/delicia/?p=3609

 

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Broto de Bambu ou Takenoko

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É época dessa variedade, chamada de hachiku (digo chamada porque não tenho certeza se é a mesma que a japonesa). Tem menos pêlos que o mooso, que é outro bambu gigante que costuma ser comido. Começa a aparecer em outubro, depois das primeiras chuvas. Como andou chovendo pouco, atrasou. Fui buscar no sítio de uma amiga da minha mãe.

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Muita gente me pergunta sobre esses brotos. Ultimamente só ando comendo de quem tem no sítio, sabe-se que são bons há muitos anos. É que algumas variedades são muito amargas, com uma certa cica (“amarra” na boca) e, suponho, com mais ácido cianídrico, que é tóxico. O hachiku e o mooso são conhecidos por serem “mansos”, ou seja, não é preciso fervê-los longamente e trocar de água diversas vezes para que se tornem seguros para comer.

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Para descasca-los, retiro as cascas da base e depois faço um corte transversal ao longo dele.

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Esse corte expõe a parte interna e puxando com as mãos a casca se destaca com facilidade. Ah, para quem tem a pele muito sensível, talvez seja melhor usar uma luva. É que essa casca é recoberta de pêlos bem miúdos mas que podem ser bem irritantes. E não coce os olhos enquanto estiver manipulando a casca, pode provocar uma coceira infernal.

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Na parte superior que sobrou, faço novamente um corte diagonal e retiro o resto das cascas.

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Depois de limpo, testo com a ponta da faca ou com a unha a parte que está macia. Corto e descarto o que estiver duro. É fibroso demais, não vale a pena cozinhar.

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Pode ser cortado em rodelas e fervido até ficar macio. Prove para conferir se há algum amargor (embora essa espécie não seja amarga). Depois de fervida, escorra, coloque em água limpa e, se quiser um broto bem claro, adicione um pouco de vinagre branco. Pode ser conservado por uma semana na geladeira. Já se for um broto de outro tipo, mais amargo, é preciso ferver pelo menos 20 minutos e, em alguns casos, trocar de água diversas vezes.

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Outra opção de conservação é corta-lo ao meio, retirar as membranas internas e colocar em um balde ou pote com tampa, ainda cru, com sal grosso ou uma salmoura muito forte. Dizem que dura dois anos mas é preciso deixar em água limpa para dessalgar, antes de empregar.

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O hachiku pode ser assado. No caso, fiz na boca do fogão mas é bem melhor na brasa, o calor é mais uniforme. A casca vai queimar mas o interior cozinha. Asse até que espetando com uma ponta de uma faca ou palito, ele esteja macio.

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Depois é só parti-lo ao meio e retirar o broto cozido de dentro, que terá um cheirinho defumado. Para ser comido com sal ou com shoyu. Mas repito, é uma técnica que só uso com o hachiku e outros brotos de bambu “mansos”.

Por fim, sempre me perguntam como identificar uma broto de bambu comestível. Primeiro: pergunte para quem tem ou vende. Segundo: se ferveu por 20 minutos e ainda estiver amargo, provavelmente é melhor não consumir, a não ser que tenha paciência para deixar em água limpa e ir trocando e fervendo diversas vezes. E, por fim, ouvi falar de algumas pessoas que tiveram reações violentas ao consumir broto de bambu. Não pesquisei sobre reações alérgicas.

E no Japão costumam colher os brotos bem pequenos, antes mesmo de despontar, é preciso cavar. Por aqui colhemos eles grandes. Pode ser que seja por conta do clima, o inverno japonês é rigoroso e o bambu provavelmente enterra suas raízes mais fundo que por aqui. E eles evitam que o broto pegue sol, para não desenvolver mais cianureto ainda. Ou seja, a colheita é feita de madrugada.

E aqui o “making of” deste post:

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Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil

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Livro é sempre bom. Ganhar livro, melhor ainda. Com dedicatória, então, nem se fala. E quando o livro é sobre um assunto interessante, que está relacionado com o seu dia-a-dia, com as coisas que andou ouvindo e lendo nos últimos dias, é perfeito.

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O livro de Vandely Ferreira Kinupp e Harri Lorenzi lista 351 espécies de plantas tanto nativas quanto exóticas, apresentando suas características, usos, propagação e usos culinários e 3 receitas por espécie.

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Algumas das espécies citadas são velhas conhecidas da cozinha japonesa, como o broto de bambu, o broto de samambaia, o shisô, etc. Aliás, PANC não significa que ela não seja comercializada, encontrada em algumas mercearias. Significa apenas que não são de consumo corriqueiro da grande maioria da população.

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E como há dias ouvi que o grupo de expoentes gastronômicos pretende defender a biodiversidade, esta aí uma boa maneira de começar: comendo. Os autores faz o convite: “Esperamos que esta obra seja o grande ponto de partida e de estímulo. Ousem experimentar pratos novos. Jamais deixem de comprar uma fruta, uma castanha ou hortaliça folhosa ou tuberosa que você nunca tenha vistou ou não tenha provado antes. (…) Leve este livro e mostre as espécies que você gostaria de comprar para o seu feirante de confiança, muitas vezes ele pode tê-las no sítio, na horta, no pomar ou na roça. ”

É um livro para quem gosta de lidar com terra – ou pelo menos não tem medo de sujar as mãos com ela, já que muitas espécies são “daninhas” e podem ser encontradas em quintais, praças, caminhos. Como a gastronomia agora está voltada para o ingrediente, também é um livro para os cozinheiros e futuros cozinheiros. E para gente como eu, que quer sempre provar alguma coisa nova e diferente. Algumas eu encontrei na banca da dona Maria Maruyama, no varejão do Ceagesp. Ela trabalha com mudas. Outras, nas mercearias da Liberdade. E muita coisa tem no meu quintal. Confesso que muitas eu nem imaginava que eram comestíveis.

O livro pode ser adquirido nas livrarias ou no site do Instituto Plantarium, que é a editora do livro:

http://www.plantarum.com.br/prod,idloja,25249,idproduto,4689459,livros-em-portugues-plantas-alimenticias-nao-convencionais–panc–no-brasil

 

 

 

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Semana Mesa SP – Soma das Partes

Confesso que passei mais tempo fora do auditório e das salas de degustação que deveria. Porquê? Porque preferi conversar. Encontrei amigos, perguntei, ouvi, falei.

A gente costuma se ver como indivíduo, não? Mas num momento confraternização e troca de informação me dou conta que sou um pouco de muitos. Aprendi e continuo aprendendo ouvindo relatos, experiências, dicas. Ou vou atrás de informação quando me perguntam algo. A curiosidade é o combustível.

Não assisti à palestra do Tiago Castanho com o pesquisador de abelhas nativas Giorgio Cristino Venturieri porque cheguei tarde naquele dia. Mas encontrei esse último mais tarde e ele explicou sobre a produção de mel em caixas de madeira, sobre uma bancada rústica com o pé dela protegido com óleo queimado para evitar o ataque de formigas. Não sabia que existiam tantas abelhas nativas e que eram tão bonitas.

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Com a Tanea Romão do Kitanda Brasil aprendi a fazer o peixinho ou lambari da horta.

 

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Eu tenho alguns pés dessa planta peluda (também chamada de orelha-de-lebre) mas não sabia como preparar. A única vez que tentei fritar, virou uma esponja cheia de gordura. Com as dicas dela, consegui come-las. Basta não lavar (por isso é bom que sejam cultivadas em casa, sem uso de pesticidas) e passar em ovo batido e fubá. E não frite por muito tempo, porque secam demais e ficam duras.

 

 

 

 

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A Antonia Padvaiskas do Empório Poitara me apresentou a fava de Aridan, que nunca havia visto. É bonita, lembra um pouco banana com rum, melaço.

 

 

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E eu nem imaginava que a barra de guaraná era ralada em uma língua de tucunaré. Fiquei impressionada com a dureza e a quantidade de “dentes”. Ela tem uma lista enorme de coisas boas para vender, desde Abricó do Pará, Cará Roxo,  até farinha ovinha. É um mundo de coisas, sempre fico impressionada com tudo, são tantos ingredientes que não conheço!  O contato dela é: Tel. 11-7310-5024 ou 8344-4040  toni.ginger@gmail.com

 

 

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E fui apresentada ao hidromel. Creia, é produzido em Ibiúna e não sei onde vende por aqui. Eles também têm um mel suave, muito bom. Soube que o apiário fica bem, bem longe daqui de casa, bem longe da rodovia e da Raposo Tavares. Temi pela suspensão da minha Paraty velha, ainda não fui visita-los. Ah, quanto ao sabor, achei forte e doce. Imaginava que fosse menos alcoólico. Eles têm um site:

http://www.apiariogiancoli.com.br/

E, bem, conversei com tanta gente interessante sobre assuntos idem que não caberiam no post e é bem provável que irei esquecer de alguém. Com medo da saia justa, termino aqui, dizendo que foi um prazer reencontra-los. Agora, para muitos, infelizmente, só no ano que vem, já que muitos vieram de longe.

 

 

 

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Semana Mesa SP – Parte 2

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Durante a Semana Mesa SP no Centro Universitário Senac Santo Amaro havia uma parte que ficou aberta ao público em geral, com stands e food trucks. Era o Farofa.

 

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Funcionou nos 3 dias, das 12 até as 21 horas. Eram 10 barraquinhas de pequenos produtores que vendiam mel, farinhas, doces, queijos, café.

 

 

 

 

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E também eram 10 barraquinhas oferecendo pratos regionais. Teve bolinho de carne chamados de “bigos”, baião-de-dois, moqueca, sanduíche de linguiça.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Os preços variavam mas não ultrapassavam os R$20,00.

 

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Ahn? Não Escutei

Uma pausa sobre comida e vou falar de saúde.

Durante o banho, entrou um pouco de água no meu ouvido. Não me importei. Não parece mas houve um tempo na minha vida em que eu nadava todos os dias. Água entra, água sai.

Mas não saiu. Passou um dia e eu ainda não conseguia escutar direito. Tentei os tapinhas, fazer vácuo com a palma da mão, nada.

Achei que a água havia empurrado o cerume e comprei um produto que promete ajudar a expelir a secreção do ouvido. Nada.

Já estava enlouquecendo quando fui ao consultório do amigo.

Um exame, limpeza e pronto. Estou ouvindo até bem demais. Uma irritação no tímpano que vai pedir umas gotas por uns dias.

Moral da história: consulte um médico. O problema pode ser simples e o alívio pode ser imediato.

E no caso do ouvido, cuidado com cotonetes. Eles podem empurrar a secreção mais do que limpar.

Se alguém precisar de um otorrino, tenho um ótimo para indicar. É o Marcos Roberto Nogueira, no Conjunto Nacional, na Paulista. O telefone é (11)3253-5582 ou (11) 3253-5584.

 

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Kabocha Em Video

Muita gente me conta de acidentes terríveis na cozinha, quando alguém tenta partir uma kabocha (abóbora japonesa). Tanto que acabei fazendo um video explicando a maneira mais segura de fazer isso. É simples e nem precisa de uma faca muito grande.

Espero que seja útil para vocês. E se gostarem, compartilhem. 😉

Ah, o video é simples e meio tosco porque eu não tenho equipamento nem um computador bom o suficiente para suportar um programa de edição de imagem.

 

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Semana Mesa SP – Parte 1

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O Congresso Semana Mesa SP teve como tema principal a agricultura familiar. Desta vez não foi incomum a presença de um chef de cozinha e um produtor no palco do Mesa Tendências.

Mas todos que estavam lá queriam ouvir o que o Conselho Consultivo do Instituto Basco tinha para dizer. Subiram ao palco Joxe Aizega, Michel Bras,  Joan Roca, Rodolfo Guzmán, Yukio Hattori, Kamilla Seidler, Ferran Adrià, Alex Atala e Gastón Acurio para falar sobre o Instituto Basco, sobre o futuro da gastronomia e sobre a biodiversidade.

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Yukio Hattori contou com a tradução do chef Tsuyoshi Murakami (Kinoshita) e falou da relação entre a mãe e o bebê que ela amamenta, assim como a comunhão que ocorre quando uma família se reúne em torno de uma mesa e pediu para que todos na platéia dessem as mãos.

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Alex Atala citou a frase do biólogo Valdely Kinupp: “Biodiversidade quando sai da boca não tem valor, quando entra na boca tem valor”.

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O chef Jefferson Rueda preparou uma galinha ao molho pardo. Sim, a galinha foi morta e sangrada, depenada, limpa e partida. A morte e o sangramento foi fora do palco, mas foi exibida no telão. Embora possa chocar muita gente, matar uma galinha não é incomum no interior do Brasil e faz parte da nossa tradição. Não, eu nunca matei uma galinha, mas já depenei e limpei muitas.

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No entanto, a galinha ao molho pardo (ou à cabidela, dependendo da região), é um prato clandestino. Restaurantes estão proibidos de prepara-lo, assim como a comercialização de sangue de animais. Há um conflito entre a legislação e o hábito cultural. Se forem pesquisar encontrarão mais exemplos.

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A chef Jussara Dutra falou da pesquisa e registro dos hábitos alimentares do Rio Grande do Sul. Em video vi produtores de uva, frutas silvestres, gente fazendo pães e bolachas em fornos à lenha, cucas, doces. Em dado momento ela disse que deveria haver uma inclusão de pratos tradicionais da cozinha gaúcha nas merendas escolares, já que muitos não cozinham mais em casa. Naquele momento fiquei pensando em como será daqui 50 anos (embora eu não esteja aqui para saber) e imaginei que a galinha ao molho pardo e o café colonial serão coisas de museu.

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Rodrigo Oliveira trouxe o produtor Patrick Assumpção para falar sobre a relação entre a cozinha e o produtor.

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Alexandre Tadeu da Costa explicou o que faz o cacau virar chocolate. Confesso que já havia lido alguma coisa a respeito mas poder provar o grão fermentado, depois torrado, o líquor e, finalmente, o chocolate, foi uma experiência bem interessante. Um ponto curioso que ele citou é que a grande maioria das plantações de cacau é uma produção familiar. Eu imaginava que exigisse mais mão-de-obra.

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Alex Atala trouxe Ivan Taffarel da Moluskus para falar sobre o delicado equilíbrio (ou desequilíbrio) do mar. Explicou que uma pequena variação do pH na água do mar provoca a morte de larvas de ostras, por exemplo. Nós aqui maltratamos o mar. A pesca por arraste tira do mar muito mais do que consumimos. Espécies que não nos interessam voltam para a água mortos.

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Esta alga é um codium, que cresce em formato de bagas ou vagens. Me lembrou uma suculenta. Tem gosto de mar, contém muita água e é outra opção de consumo.

Também teve a escritora argentina Soledad Barruti lembrando que a agricultura familiar também depende muito da política, hoje voltada para a monocultura e exportação de grãos.

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Yukio Hattori, traduzido pelo chef Tsuyoshi Murakami, falou dos artesãos japoneses: facas, raladores, esteiras de bambu, palitos de madeira (kuromoji) utilizados sobretudo para comer doces, peneira de crina de cavalo (koshiki). Hoje são peças raras, produzidas por pouquíssimas pessoas. Além de serem produtos de alta qualidade, fazem parte da cultura japonesa.

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E sobre cultura japonesa, também houve uma aula sobre sakes com degustação, com o Alexandre Tatsuya Iiida da Adega de Sake. Ele explicou como é feito, sobre temperatura de consumo, tempo de armazenagem, tipos e até etiqueta.

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E a degutação contou até com petiscos (otoshi) do restaurante Aizomê (kimpira, berinjela e nambam-zuke).

Perdi muitas palestras por conta do trânsito e também porque encontrei com amigos nos corredores. Lamento, mas não era possível estar em todos os lugares ao mesmo tempo, já que o Mesa ao Vivo acontecia simultaneamente.

Outras fotos publiquei no Facebook:

https://www.facebook.com/pages/Blog-Delicia/311021185608224

 

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O Homem É O Único Animal Que…

Uma das coisas que eu gostava no seriada “Jornada nas Estrelas” (sim, já fui criança e adolescente, embora há muito tempo) eram as discussões entre o doutor Spock e o capitão James Kirk. De um lado, uma racionalidade que não se deixa levar pelo calor do momento nem pelas emoções. De outro, um oficial com responsabilidades mas que era também um sujeito passional e que até poderia apelar para recursos de ética questionável.

Eu  moro em uma pequena propriedade na zona rural. Tenho espaço suficiente para ter uma casa, manter uma distância saudável dos vizinhos, silêncio e ar limpo. A horta, em parte, surgiu por um motivo prático: é preciso manter o terreno limpo para não ter a casa invadida por aranhas, lacraias e até cobras. Mas poderia ter plantado grama que resolveria o problema. Mas a horta ainda renderia algumas verduras e muita atividade física.

Sabia também que seria um pequeno desafio recuperar um solo desgastado, fazer compostagem, buscar esterco em outras propriedades, contaminar o solo com fungos “bons”, pesquisar opções de controle de pragas. Tive algumas decepções com inseticidas biológicos, alguns inseticidas liberados para cultura orgânica são razoavelmente eficientes.

Agora temos o problema de água.

Em termos de economia, garanto, nem sempre é mais barato plantar que comprar na feira. Isso é quase um padrão quando se trabalha com produtos em pequena escala, seja automóveis quanto alface.

Isso é bem irracional, não, doutor Spock?

Mas há algo imensurável em ter uma horta, ou ter 2 cães e 4 gatos ou fazer pão em casa.

Há a satisfação pessoal de realizar algo, mesmo que pequeno. Há a satisfação de ver crescer e comer algo que não encontro no supermercado. Invisto em plantas que andam desaparecidas, como o cará-moela, o melãozinho do mato (nashi-uri), vagens. Plantamos, fazemos as pessoas provarem, distribuímos mudas e sementes, num trabalho de formiga para disseminar variedades que não têm valor comercial.

E também ganho ou compro sementes exóticas, que ainda não se tornaram populares por aqui. E faço o mesmo, tentando convencer as pessoas a cobrarem maior diversidade na feira, no prato.

Isso faz com que eu tenha um relacionamento bom com meus vizinhos. Eles gostam das verduras estranhas, do pão, do bolo que faço.

E eu também ganho feijão novo, ovos caipiras, mudas de orquídeas.

Nesse tempo meu lar ganhou um espaço verde e um tanto quanto caótico. Nunca apareceria em uma revista de jardinagem e paisagismo.

Por esse aspecto, eu diria que o ser humano é o único animal que gasta energia fazendo coisas que não servirão para garantir sua sobrevivência, nem sua segurança ou do seu grupo. Justifica alegando satisfação pessoal e incremento do bom-relacionamento social.

Sim, o ser humano é um animal que faz coisas aparentemente irracionais e fica feliz.

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Cozinhar – Michael Pollan

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“Você precisa ler esse livro”. “Você precisa conhecer Michael Pollan.” Ouvi isso algumas vezes e, creia, até vi o autor uma vez, pessoalmente, numa situação inusitada. Troquei duas frases com ele.

Passei a semana lendo o último livro dele: Cozinhar – Uma História Natural da Transformação. De fato, ele conseguiu reunir uma série de pensamentos e questionamentos que tenho.

Já aviso que crudivoristas poderão ficar irritados com alguns comentários por lá.

Cozinhar durante muito tempo foi uma atividade importante para o ser humano. Consumindo alimentos cozidos, ficamos a salvo de parasitas, aumentamos a quantidade de energia ingerida, reforçamos laços familiares, criamos uma cultura. No entanto, nas últimas décadas, comer tornou-se um ato secundário. Eu mesma reconheço que não é raro comer diante da TV, por exemplo.

Cada vez mais pessoas deixam de cozinhar e passam a consumir mais e mais produtos industrializados. Poderia-se dizer que seria mais racional deixar a cozinha para quem tem aptidão e comer só em restaurantes. No Japão isso é até comum, existem muitos restaurantes populares e lojas que vendem pratos prontos, feitos no dia. E com tantos lugares baratos para comer, além dos refeitórios das empresas, universidades, repartições públicas, muita gente prefere não cozinhar. Ainda mais se considerarmos que há muito mais gente vivendo sozinha e em apartamentos realmente pequenos.

Se formos ir mais adiante na lógica, talvez fosse mais sensato ainda parar de cozinhar e ingerir “comida de astronauta”, preparados balanceados que até já existem. Uma lata ou um sachê e pronto. Pouco lixo, nenhum desperdício, pouco tempo gasto.

Mas cozinhar e comer não é só alimentar. Não é só ingerir calorias e nutrientes. Para mim, cozinhar tem mais com agradar outra pessoa. Sim, eu posso comer praticamente qualquer coisa, sem queixas. Na maior parte do tempo cozinho para outra pessoa. Comer tem mais a ver com uma identidade – sou do grupo de humanos que come carne de porco, que gosta de arroz branco, que come pasta de soja fermentada, que come “de pauzinhos”, etc -, com cultura, com grupo social e outros fatores que vão além da nutrição.

Outra coisa interessante no livro é o capítulo sobre fermentados. Eu fermento coisas porque faz parte da minha cultura, dos meus hábitos e por conta da minha curiosidade. No entanto ele acredita que o fato de termos deixado de consumir produtos não-pasteurizados tem influência direta na nossa saúde. Questões a respeito de probióticos e prébióticos, Não vou discutir isso, faltam-me dados para sequer começar. Gostaria que lessem com atenção.

Recomendo o livro para quem se perguntar porquê cozinhamos.

 

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