Natto

Mais um fermentado comum no Japão, que foi comentado na aula da Mari Hirata na Escola Wilma Kovesi. Trata-se de soja cozida e contaminada pelo bacilus subtillus. Contam por aí que antigamente alimentavam cavalos com soja cozida – eles não conseguem digerir soja crua. Provavelmente alguém observou que os cavalos comiam até mesmo a soja que estava fermentada. Talvez por curiosidade, talvez por fome, alguém comeu esse fermentado e percebeu que, apesar do cheiro e da aparência estranha, era de fácil digestão. Não vou entrar em detalhes sobre os aminoácidos e nutrientes do natto. Não acredito que seja um alimento miraculoso e creio que preciso de outras coisas além de soja fermentada para viver. Mas, como nota pessoal, deixo aqui que minha mãe tem comido natto com certa regularidade nas últimas semanas e não tem se queixado de constipação intestinal. Já meu pai, que sofria de uma cardiopatia, foi proibido de consumi-lo. Não me lembro bem do motivo, mas tinha algo a ver com a vitamina K presente no natto.

Dá para fazer em casa, sem a necessidade de muita parafernália. Pode ser feito a partir de um potinho de natto comprado em mercearias orientais.

Também pode ser feito a partir de um concentrado industrializado. Uma embalagem dessas dá conta de fazer 30 kg de natto. Este eu ganhei da Mari Hirata. Pode ser comprado através da Gem Cultures.

O primeiro passo é deixar a soja de molho por uma noite e cozinhar. Aqui em casa foi cozido dentro de um saco de pano e um peso (uma peça de inox) em cima, na panela de pressão. Isso porque a soja tende a boiar enquanto cozinha e pode entupir a válvula. Levou cerca de 40 minutos.

No caso de usar o natto já pronto: misture à soja cozida e fria, na proporção de uns 10%. Distribua em potinhos. Não coloque muito em cada um, faça uma camada equivalente a uns 3 grãos, um pouco mais, talvez. Já no caso do starter industrializado, uma micro colher diluída em um pouco de água para cada 500 gramas de soja crua. Outro detalhe: se puder, use soja da mais miúda. Segundo a Mari, ela encontrou no bairro do Bom Retiro, em lojas de produtos coreanos. Eu vi em lojas de produtos naturais.

O bacilus subtillus desenvolve-se bem a 36-38°C e morre a 40°C. Ou seja, é meio exigente. Nós usamos um isopor grande. Colocamos umas garrafas cheias de água quente no fundo (o calor sobe). Sobre essas garrafas, palha de milho (retiradas do sabugo e secas) para que os potinhos de natto não tivessem contato direto com as garrafas, quentes demais. Sobre essa cama de palha, um pano limpo. Distribua os potinhos em uma única camada.

Sobre tudo, uma toalha ou cobertor e a tampa da caixa de isopor. Depois de 14 horas, é preciso ficar de olho. Fizemos no final da tarde, para podermos dormir tranquilas e conferimos pela manhã.

Estará pronto quando ficar coberto de um visgo esbranquiçado e desenvolver um aroma característico. Esse aí de cima foi feito com natto comprado pronto.

Este foi feito com o starter. Ficou mais uniforme. O importante nisso é não deixar passar do ponto: ele desenvolve um cheiro forte de amônia. Nesse caso, coloque na composteira ou enterre em um canteiro, na horta. As beringelas vão agradecer o nitrogênio extra.

As tampas ficam com gotinhas de água condensada. Eu recomendo enxuga-las, para que a água não caia sobre o natto que já está pronto.

Antes de consumir, leve à geladeira e espere esfriar bem. Se não for consumir logo (em poucos dias), congele, sem problemas. Não deixe os potinhos na geladeira destampados. Em poucos dias seu queijo e tudo mais na geladeira poderá ficar com cheiro de natto, que é muito resistente. Também não usamos os panos, toalhas, etc utilizados dentro da caixa de isopor para fazer koji ou qualquer outra coisa além de natto. Apesar de lavado, já ouvi falar de casos em que houve uma contaminação indesejada e a pessoa acabou com natto de arroz. Lave todos os utensílios com detergente, passe por uma solução de água e água sanitária.

E como se come? Bem, é popular no desjejum, com arroz. Muitos misturam bem o natto com shoyu, cebolinha e talvez um pouco de mostarda forte (karashi). Outros juntam uma gema de ovo, rodelinhas de quiabo cozido, cará ralado e já ouvi gente dizer que tempera como salada (com shoyu e vinagre). Dizem que é melhor consumi-lo sem cozinhar, mas há quem recheie rolinhos primavera e coloque na sopa. Ah, ia esquecendo, também existe sushi de natto.

E, por fim, natto não é só para comer. Também dá para fazer um produto de limpeza com ele. Leia mais sobre a Maienza aqui:

http://marisaono.com/delicia/?p=2813

 

 

 

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Sakaman

Outra receita que a Mari Hirata apresentou lá na Escola Wilma Kovesi: Sakaman. Também feito com o fermento feito a partir de koji.

500 gramas de farinha de trigo

2 colheres de sopa de açúcar

Fermento feito de koji

Misture o caldo do fermento, coado, com o açúcar e adicione à farinha, até formar uma massa de pão. Se necessário, vá adicionando mais fermento. Deixe fermentar até crescer.

Divida em porções e recheie com pasta de doce de feijão (anko). Forme bolinhos e coloque para crescer sobre pedaços de papel siliconado (Dove Assa + Leve) ou papel vegetal. Papel manteiga não funciona, gruda.

Depois de crescidos, leve para cozinhar no vapor, por 8 a 10 minutos.

Infelizmente, os meus cresceram demais. Tive que ir ao dentista, pensei que iria voltar logo mas acabei ficando com a boca aberta por mais de uma hora lá no consultório. Ou seja, quando voltei, os sakaman tinham passado do ponto e desabado. Por pura frescura, coloquei um pouco de flor de cerejeira salgada em cima.

Também experimentei colocar um pouco de yomogi (losna) na massa. Ficou com um aroma bom e uma cor esverdeada bonita.

Lá na aula, a Mari explicou que até hoje, o sakaman é feito dessa maneira na Toraya, tradicional confeitaria japonesa. Como o fermento é natural, a textura dele é mais firme, não fica um bolinho fofo.

 

 

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Amazake

Sabe o resíduo que sobrou do fermento de ontem, depois de coado? Pode virar uma bebida quente. É só adicionar água e açúcar, na proporção que agradar. Não deve ficar muito grossa, nem rala demais. Eu gosto de colocar um pouco de suco de gengibre ralado. Depois é só ferver, cozinhar por um ou dois minutos e beber quente. Não vai ser muito alcóolico, não.

Mas se ficou com vontade de beber amazake e não tem o fermento de koji, pode fazer comprando borra de sake, que é encontrado em mercearias orientais sob o nome de Sakeko.

 

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Fermento Natural Feito com Koji

Na aula da Mari Hirata, lá na escola Wilma Kovesi, aprendi a fazer um fermento de pão a partir do koji. Se tiver o arroz mofado (contaminado pelo Aspergillus Oryzae), é fácil. Se não tiver, aguardem os próximos post, que eu pretendo desenvolver mais o assunto.

150 ml de mingau de arroz (cozinhe 1/2 xícara de arroz – eu usei arroz mochigome – e 3 xícaras de água, até ficar ficar muito macio, uma papa)

150 ml de água (não use água clorada, dê preferência a água mineral ou água de poço fervida)

30 gramas de koji

Coloque tudo em um pote de vidro. Deixe fermentar por 1 a 2 dias, dependendo da temperatura. Eu não tampei, coloquei um pano fino na boca e prendi com um elástico. Eu fiz 3 receitas de fermento (450 ml de mingau de arroz, 450 ml de água, 90 gramas de koji).

No primeiro dia ele mudou de cor e começou a formar pequenas bolhas.

No segundo dia, a fermentação era bem mais intensa. Coei.

O resultado é um líquido leitoso. De certa forma, é um sake, só que de baixo teor alcóolico.

Para o pão:

500 gramas de farinha de trigo

2 colheres de sopa de açúcar

1/2 colhere de sopa de sal

Fermento natural o suficiente para fazer a massa

Misture e sove por 10 minutos. Forme uma bola, coloque em uma vasilha coberta com um filme plástico e deixe crescer. Dessa vez demorou 12 horas.

Divida em 2 pães, forme duas bolas e deixe crescer. Faça cortes, pincele com água e leve ao forno quente, pré-aquecido. Depois de 10 minutos, abaixe um pouco a temperatura e asse até dourar.

Como é comum nos pães feitos com fermento natural, a textura do miolo é mais firme. O sabor é agradável, um pouquinho ácido e adocicado. Certamente farei outros pães com esse fermento.

A Nina Mori do blog Gourmandise sugeriu que eu batizasse esse fermento com algum nome japonês, mas estou sem idéias. Alguém tem alguma sugestão? Pensei em chama-lo de Iwata, a primeira cidade japonesa que conheci.

 

 

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Video Doce Tarde

Pois é, saiu o video do workshop Doce Tarde, da Doce Menor. Por favor, ignorem a gorducha. Não, não consegui assistir, ainda não venci o terror de ver minha imagem em video.

Doce Tarde

 

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Composteiras

Composteira

Moro em uma chácara, estou começando uma horta. Naturalmente passei a precisar de uma composteira. É lá que junto folhas secas, restos não aproveitados da horta (talos, folhas, coisas recolhidas da limpeza dos canteiros), frutos podres, etc. Por conta de animais domésticos e não-domésticos, precisei fazer um gabarito. Muito simples, algumas estacas e um pedaço de tela encapada com plástico. Assim os bichos não bagunçam tudo e eu não me aborreço.

Qualquer matéria orgânica uma hora irá se decompor. Mas, para apressar o processo e evitar o mau-cheiro, tomo alguns cuidados. Um deles é revolver a cada 2 dias, mais ou menos. Assim não fica aquele cheiro do chorume (ou cheiro de caminhão de lixo). Intercalo material verde com marrom. Coloco iscas para as moscas. Mantenho úmido. Não é ciência exata. Dependendo do clima vai se decompor mais rápido ou vai levar mais tempo.

E para quem não tem tanto espaço assim? Dá para reciclar os restos da cozinha? E sem mau-cheiro, sem moscas? Dá. E não vai precisar de equipamento caro. Só uma caixa de papelão, um saco plástico, um pouco de fita adesiva e farelo de trigo. Coloque um saco plástico grosso dentro de uma caixa de papelão. Prenda com fita adesiva nas bordas da caixa.

Coloque farelo de trigo misturado com um pouco de cinza (ou carvão moído) e um pouco de terra. Uso farelo de trigo porque é barato. Não, não é aquele que você compra na loja de produtos naturais, macrobióticos. É farelo para gado, cavalo, mesmo. Procure em casa de ração. Talvez possa ser substituído por serragem. Não encha até a boca, deixe 1/3 livre da caixa.

Então é só pegar o resto da cozinha, se possível pique e enterre nesse farelo. A cada dia enterre em um lugar diferente, distribuindo bem o material. Tampe a caixa dobrando as abas e cubra com um pano. Eu usei uma camiseta velha. Não se iluda, uma caixa vai dar conta de muita coisa. O farelo vai absorver muita água e os restos ficarão bem secos. Sem umidade, não vai desenvolver muito cheiro e nem vão aparecer moscas. Quando estiver cheio, prepare outra caixa. Mantenha a caixa em um local elevado do chão. Se tiver animais domésticos, é melhor escolher um lugar seguro.

Semanalmente, revire e adicione um pouco de água para que fique úmido sem encharcar. O material vai ser decomposto a ponto de ficar difícil identificar alguma coisa. Pode desenvolver um cheiro de amônia, mas isso é por conta da própria decomposição mesmo. Para acelerar ainda mais o processo, eu coloco um pouco de koji (arroz contaminado com Aspergillus Oryzae, base da produção de miso, shoyu e sake). Também é bem provável que esse material esquente, o que é bom. Para ter idéia de como o processo é rápido, comecei essa composteira em 28 de maio e está quase pronto.

 

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Mais Sobre os Fermentados da Mari Hirata

Claro que ela não iria falar somente sobre pasta de soja, embora ela seja, junto com o açúcar, o sal, o vinagre e o shoyu, tempero básico da culinária japonesa. Teve conserva em farelo de arroz, natto (soja fermentada), kimchee e fermento de pão.

O natto talvez seja o fermentado mais odiado de todos. O cheiro não é tão agradável, a aparência não ajuda. Os grãos de soja ficam cobertos com um visgo pegajoso. Confesso, eu não como. Não é pelo gosto nem pelo cheiro, é pela textura. Tenho horror a qualquer coisa visguenta, babenta. Tento, insisto, persisto. Já estou começando a comer quiabo e inhame, mas cará ralado e natto ainda não desceram.

Conta a lenda que antigamente costumava-se cozinhar soja para alimentar cavalos. Eles não comem feijão cru. Eventualmente fermentava, os cavalos comiam assim mesmo e alguém deve ter provado. E percebido que, assim, a soja tornava-se mais digesta. Imagino que foi alguém que estava passando fome, para se servir de comida de animais. Dizem que a mucilagem (ou baba) dos alimentos tem a capacidade de limpar as dobrinhas (vilosidades) das paredes do intestino. Aliás, fala-se muito sobre o natto, alguns pintam como um super alimento. Não acredito que um único alimento resolverá todos os problemas de saúde de um indivíduo. Como tudo, se gosta e sente-se bem, coma. Mas sempre com moderação.

Há muito o que falar sobre o natto. Deixo para mais adiante, pretendo fazer um pouco desse feijão fermentado daqui uns dias.

Ela também ensinou a fazer um fermento a partir do koji. Estou desenvolvendo aqui em casa esse fermento e quando ficar pronto, escrevo mais a respeito.

Outra coisa curiosíssima apresentada foi o shio-koji. Trata-se do koji (arroz onde se desenvolveu um fungo) com sal. Utilizado como tempero, em marinadas ou até mesmo substituto do shoyu. Também vou fazer (leva alguns dias para fermentar) e escrevo sobre isso daqui um tempo.

Lá, conversando com leitores do blog, percebi o quanto há para escrever a respeito do koji. É a partir dele que é feito o miso, o sake, o mirin e os subprodutos deles, como a borra de sake, com a qual se faz conservas e o amazake. Ana Soares sugeriu um video do preparo do koji. Estou pensando em tudo isso, prometo novidades para as próximas semanas.

 

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Muffins

Anteontem, entre um compromisso e outro, fiquei com algum tempo livre. Resolvi parar em uma loja de uma rede fast-food para tomar um café. Saí de lá arrependida até a raiz dos cabelos. Apesar das 4 funcionárias atendendo, meu café e muffin demorou cerca de 20 minutos. Pior, uma funcionária veio perguntar o que é que eu tinha pedido, porque ela jogou fora o papelzinho. Dá para piorar? Dá. Os funcionários – tanto os que estavam nos balcões quanto os que estavam entrando para o turno – falavam mais alto que a clientela. O pesadelo acabou? Não. O muffin estava doce, doce, doce de enjoar.

Bem, com isso acabei fazendo uns ontem, aqui em casa, rapidinho.

215 gramas de farinha

3 colheres de chá rasas de fermento químico em pó

2 ovos pequenos

90 gramas de manteiga ou margarina amolecida (use sempre margarina com 80% de lipídeos)

65 gramas de açúcar

180 ml de leite

Um pouco de sal

Groselhas, blueberries, amoras ou morangos picados

Peneire a farinha com o fermento. Eu usei 50 gramas de farinha integral e o restante de farinha comum. Acho que poderia até ter usado uma proporção maior.

Bata os ovos com a manteiga e o açúcar, até misturar. Adicione a farinha, misture e vá juntando o leite. É tudo muito rápido. A massa vai ficar cremosa. Junte o sal e misture.

Se quiser, aromatize com baunilha, canela, raspas de limão ou laranja, etc.

Dividi a massa em 12 forminhas forradas com forminhas de papel plissado. Em metade, coloquei algumas groselhas congeladas em cima. Bati ligeiramente as formas contra o tampo da mesa para que a massa assentasse. Forno pré-aquecido, a 180-190°C até dourarem.

A receita tirei de um livro sobre culinária amish da Pennsylvania. Até agora não fiquei desapontada com a receitas que fiz de lá.  Os muffins não são muito doces. Para quem gosta de açúcar, pode comer com geléia. Eu dispenso. Não vai dar conta de come-los todos logo? Não se preocupe. Embrulhe cada um em um filme plástico e congele. Para comer, retire do freezer e espere descongelar. Se quiser comê-los mornos, reaqueça no microondas.

Essa receita permite um grande número de variações. Misture gotas de chocolate, salpique nozes, cubra com maçã cortada em tirinhas finas, aromatize à gosto.

 

 

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Os Fermentados de Mari Hirata

Todo ano a Mari Hirata vem ao Brasil e apresenta uma aula na escola Wilma Kovesi. Este ano o tema foram os fermentados. Na mala ela iria trazer muita coisa, mas ela precisaria do koji. A Betty perguntou para a Neide Rigo que nos apresentou e assim lá foi parar o arroz contaminado com Aspergillus Oryzae no miso que a Mari preparou durante a aula.

Nos dias anteriores eu e minha mãe sofremos com a tensão. Apesar de fazermos koji anualmente, quando é para os outros sempre bate uma insegurança. Felizmente, tudo deu certo.

Segundo a Mari, logo após o terremoto, sumiu o natto (soja fermentada). Isso porque a região afetada é a maior produtora do país. E agora, com o temor de alimentos contaminados, muita gente voltou a fazer uma série de fermentados em casa, utilizando produtos locais. Também estão economizando energia elétrica. Isso tenho acompanhado através da NHK. Com isso, velhos hábitos tornaram-se novos: cozinhar arroz em panela de cerâmica, aparelhos elétricos foram aposentados, menos tomadas, menos luzes.

Quanto aos fermentados, por lá existem muitos kits. Eu mesma comprei kits para produzir iogurtes e pão com fermento natural. Mas agora tornaram-se muito mais comuns nas lojas.

Aqui no Brasil, pelo que percebi, muita gente deixou de fazer miso, por exemplo. Muita gente já não mora em casas, sítios ou chácaras. Em apartamento, com cozinha pequena, é um pouco mais complicado. Também muitos já perderam as avós, tias e até mães. Ainda vejo em feiras e alguns empórios miso artesanal, sinal de que alguém ainda produz. E qual a diferença entre um feito em casa e um industrializado? Bem, para mim, é a questão do gosto “de casa”. Também conto com o prazer de desfrutar a evolução do sabor ao longo do tempo. A pasta de soja desenvolve sabores complexos. Também é um exercício de paciência, já que demora meses para ficar pronto. Enfim, também é um bom presente. Costumamos dividi-lo entre amigos.

Existem muitas receitas de miso. A proporção koji/soja/ sal varia muito. Há quem coloque também trigo, para obter uma pasta avermelhada. Já escrevi sobre o que fazemos aqui em casa: http://marisaono.com/delicia/?p=1643

A receita da Mari Hirata é ligeiramente diferente:

1 kg de soja

1,5 kg de koji

400 gr de sal refinado (se for marinho, que é mais úmido, use 480)

Água fervida e resfriada, suficiente  para formar uma massa de textura de massa de modelar

30 gr de sal para finalização

Deixar os grãos de soja por uma noite, de molho em água.

Lavar com água ferendo todos os utensílios qe for utilizar para evitar surpresas!

Cozinhar a soja em panela de pressão até ficar macia (até que possa ser amassada facilmente com a ponta dos dedos). Depois de morno, passar a soja em um amassador de batatas até a textura de um purê – não precisa ficar liso ou muito bem amassado.

Esfarelar o arroz koji e misturar com o sal (reservar 30 gramas para o fim) e o purê de soja, sovando bem e acrescentando água até que seja possível formar bolas apretando bem. A massa não deve ficar mole ou grudar nas mãos. Quase uma farofa úmida.

Colocar tudo em um saco plástico resistente e fechar bem. Pisar sobre o saco com os pés descalços, por uns 10 minutos para amassar bem a mistura (antigamente se fazia em toneis de madeira, como o vinho).

Retire do plástico e faça bolas com as mãos e vá colocando em recipiente de cerâmica (como um vaso) ou em recipiente de material plástico com tampa que possa ir à geladeira – caso de fazer em pleno verão, deixe na parte de frutas ou em cae, o importante é estar escuro e que não tenha diferenças grandes de temperaturas – não se esqueça que está tudo vivo!

Coloque as bolas, uma a uma, dentro do recipiente e vá amassando e apertando para que não entre ar. O imporando que o misso entre como um bloco e depois fique com a superfície lisa. Polvilhe com sal restante na superfície e tampe – isso impede de mofar – mesmo que mofe´enormal, neste caso, retire a parte mofada com um palito ou colher limpa.

Se utilizar vaso de cerâmica coloque diretamente na superfície do miso um papel de embrulho (e não filme plástico). Faça pelo menos 2 a 3 camadas de papel e tampe.

O tempo de fermentação é de 3 meses e após este período, estará pronto, podendo ser deixado indefinidamente depois na geladeira. Enquanto está fermentando evite abrir pois o contato com o ar traz outros tipos de micro-organismos.

Observações importantes:

Prefira um recipiente de porcelana ou barro pois eles deixam o miso respirar.

Escolha o inverno como época para começar a preparação.

O lugar ideal para deixar fermentar é uma cave, garagem ou subsolo.

Se na superfície formar um líquido, não se assute, este é o tamari, uma espécie de shoyu caseiro muito na moda hoje em dia, pode ser utilizado para temperar sashimis.

Se o miso estiver mole em demasia, coloque um peso em cima e retire o excesso de tamari-shoyu

Ele estará pronto quando: estiver com cheiro de miso, a cor escurecer (marron claro) e o gosto for agradavel. O sabor vai aprofundar com o tempo.

Deixe sempre 1/10 do mês antigo como uma espécie de starter para o mês novo. Tendo o starter, a segunda vez que for feito vai ser mais rápido e com um gosto cada vez melhor. Por isso que nas antigas casas eles tem um sabor mais complexo.

Com o miso, ela fez dois dips para comer com vegetais. Um deles levava pasta de gergelim, outro pimenta.

Salmão marinado.

E, claro, misoshiru (sopa de miso). No entanto, nesta foto, o miso ainda não tinha sido adicionado, é o dashi (caldo feito com bonito seco e alga kombu) com tofu e cebolinha.

Amanhã escreverei mais sobre os fermentados. Enquanto isso, confiram o que a Neide Rigo escreveu sobre o kimchee:

http://come-se.blogspot.com/2011/08/aula-da-mari-hirata-sobre-fermentados.html

 

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Ontem

Agradeço ao carinho que recebi do pessoal que assistiu à aula da Mari Hirata sobre fermentados. Encontrei (ou melhor, fui encontrada) por alguns leitores do blog. E fiquei feliz em saber que o que escrevo, sobre essas comidas do cotidiano nikkey dizem tanto a muitos.

Mais tarde escrevo mais – tanto sobre a aula, maravilha – e sobre o koji (arroz contaminado com fungo).

 

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