Ainda não havia ido a nenhum restaurante okinawano aqui no Brasil. Para quem não sabe, Okinawa é a província mais ao sul do Japão, com características tão próprias que fazem dela tão especial. O clima tropical favorece o cultivo de frutas como mamão e abacaxi. O vegetal mais emblemático de lá é o goya ou nigauri (pepino amargo), tão amargo quanto amado. Come-se muito porco, mas também há uma fartura de algas, peixes e também consomem carne de cabrito e bode. Convivi com descentes de okinawanos em Londrina. Mas, curiosamente, eles não mantiveram as tradições da cozinha. Já no Japão, restaurantes com comida típica de outras províncias não são raros. Fui em dois, provei o soba, o goya champuru (refogado de goya com tofu e ovos), um peixe de cara estranha mas carne bem branquinha, fritinho, refrescos, um arroz frito, bolinhos (saataa andaagii).
A versão do goya champuru do Deigo ganha flocos de bonito seco. É o tipo do prato que existem muitas versões. Já vi com spam (kitute, apresuntado em lata), atum em lata. Influência da base americana lá, dizem. O goya estava um pouco mais cozido do que costumo fazer e cortado mais fino, também, perdeu um pouco da textura.
O joelho de porco estava bem cozido, macio, no shoyu. Mas aviso que é um prato para quem gosta muito de porco, não é todo mundo que vai cair de amores pela textura gelatinosa da pele e tendões cozidos e do cheiro de porco cozido.
O soba deles é diferente do sobá do resto do Japão. Não é feito com massa de trigo sarraceno, é uma massa de trigo comum. Não é nem um udon (que é feito à base de bonito e alga kombu), nem um lamen (que pode ser feito de caldo de carne, galinha, porco). No Deigo a massa é industrializada e o caldo não parecia ter porco. Os bocados de costelinha parece que foram fritos e cozidos. Estava bom, mas não excepcional.
O curioso é que o lugar estava cheio de japoneses. Atrás de mim 3 homens falavam de trabalho. Muita gente parece ir lá para o Happy Hour. Nem todo mundo come os pratos mais típicos da província, vi muita gente pedindo sushi e sashimi. Há muito tempo não via tanta gente conversando em japonês, sejam jovens, meia-idade e gente mais velha também.
Vale? Vale pela curiosidade. Se não conhece comida okinawana, vá e constate que pouco tem em comum com a comida da ilha de Honshu. O preço é camarada também (3 sobas, 1 porção de joelho, outra de goya champuru e arroz, mais 2 águas e 1 coca saiu a R$32 por pessoa, éramos em 4). Como é o primeiro restaurante do gênero que conheço no Brasil, ainda não posso dizer se é o melhor representante.
PS: recomendaram-me o yakisoba de lá, fica para outra vez. A casa não abre aos domingos.
