Umami

Já vou avisando que este post não tem nada com a Ajinomoto.

Vi o David Chang falar sobre o garum, o miso, o tamari, durante o Mesa Tendências. Tudo isso para obter algo chamado “umami”. Coisa que o Rene Redzepi do Noma também está buscando com miso de ervilhas amarelas (http://vimeo.com/53066802). Vi há algum tempo Alex Atala e Helena Rizzo em um programa na tv japonesa NHK, provando dashis. Durante o Paladar – Cozinha do Brasil, Helena Rizzo assou, desidratou e ralou carne para fazer algo que remetesse ao bonito seco (katsuobushi), rico em umami.

E me peguei perguntando porque nunca comentei sobre o umami. Por um pouco de preguiça, é verdade. Muita gente alega que não sente esse sabor. Outros crucificam o glutamato. O fato é que a cozinha japonesa usa e abusa de ingredientes cheinhos de glutamato, inosinato e guanilato.

Para começo de conversa, umami não é algo novo.. Ou melhor, era algo desejado mas não definido. Os antigos romanos faziam o garum ou liquamen. Os similares contemporâneos são o molho de peixe (nampla) ou ishiru, ishiri japonês. Pode ser feito com o peixe inteiro ou só vísceras e cabeça, ou com lulas. Pode ser feito com sardinhas ou um punhado de peixes pequenos genéricos. Embora o cheiro não seja dos melhores, contem umami. Pensando um pouco melhor, tem alguma semelhança com a pasta de anchovas. Miso, tamari (o soro que se forma quando o miso matura por vários anos) e o shoyu também são fontes de umami. Caldos também contém umami, sejam eles feitos com peixe seco, alga kombu ou cogumelos.

Quanto ao fato dele fazer mal à saúde, prefiro não ser categórica. Conhecimento é algo em eterna evolução. Amanhã pode ser que descubram algo novo. Por enquanto, penso que se a pessoa não sente mal ao comer queijos maturados como o parmesão ou aquela bela macarronada ao sugo, não creio que seja sensível ao glutamato. Pode se esbaldar com aquele sukiyaki cheio de acelga (100 mg/100 gr), temperado com shoyu (780mg/100 gr) com um ovo (15 mg/100gr). Ou tomar seu chá verde (ou preto ou oolong), que pode conter até 668mg/100 gramas de erva seca tranquilamente.

Com tanto umami na minha cozinha, não costumo usar glutamato monosódico, embora ele costume estar presente em vários produtos industrializados que consumo.

Nessa história toda sobre umami, só fico pensando porque cozinheiros do mundo estão pondo a mão e fazendo seu miso, kimchee, garum. Fazemos miso em casa há mais de 30 anos, tirando o período em que morei no Japão, onde a falta de espaço impedia e a oferta de ótimos misos e shoyus era grande. Antes, era porque não havia para comprar em Londrina. Hoje é porque realmente gostamos do nosso miso. Talvez esses chefs estejam à procura de algo que seja pessoal. Talvez seja pela própria vontade de conhecer, aprender, saber. O fato é que lidar com fermentados é fascinante, sejam eles miso, kimchee, sauerkraut, pães, vinagres, cervejas, etc. Em alguns casos é um exercício de paciência – shoyu pode demorar 9 meses para ficar pronto – mas para mim é recompensador ver a evolução e a transformação, como podem ver nas amostras de 3 meses, 1 ano e 3 anos de miso acima.

O tamari é um prêmio para quem tem paciência. Depois de 4 anos conseguimos um pouco desse líquido que é o avô do shoyu. É considerado um luxo no Japão e não contem glúten. No entanto, vi que em muitos países de língua inglesa chamam de tamari o shoyu de fermentação natural. Um grande engano.

Não sei se chamo esse trabalho todo de fazer miso um prazer egoísta. Hoje, procurando se acha tudo e talvez seja possível – tendo dinheiro suficiente – comprar misos e tamaris feitos por gente que está nisso há séculos. Talvez seja essa coisa besta de querer fazer, aprender a fazer mesmo, coisa de gente obsessiva, daquelas que lê bula de remédio.

E para terminar, uma dica de um caldo à base de cogumelos que eu acredito que tem potencial fora da cozinha asiática: o caldo de enokitake (golden needle mushrooms, Flammulina velutipes). Desidratado, ele é delicioso frito, mas também rende um caldo com pouco. Bastam 30 gramas desse cogulemo picado para cada litro de água quase fervente (95°C). Coloque em uma garrafa térmica e mantenha lá por pelo menos 30 minutos. Esse “chá” de cogumelo é um pouco salgado, um pouco ácido mas não tem aroma tão intenso. Infelizmente, por enquanto, só encontro em mercearias chinesas da Conselheiro Furtado (Liberdade).

E então, vamos dar uma chance ao umami?

 

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Novamente, Caracol Marinho – Zidona dufresneyi

Juro que não falo de caramujos marinhos por muito tempo. Só mais este post.  A minha primeira experiência com esse caracol publiquei aqui. No entanto, não fiquei de todo satisfeita com o resultado. A textura era firme, como a maioria dos caracóis marinhos que comi. Mas podia ser melhor.

Nessa o Edson Croce, do Shopping da Roça – que já me acudiu com a identificação dele – colaborou com sugestões de técnica de preparo: congelar rompe as fibras, porque a água contida nele se dilata. Bem, ele conhece um bocado de caracóis, é colecionador de conchas e comeu muitos!

Outra pessoa que ajudou-me é alguém que admiro muito: o chef Shinya Koike, dos restaurantes Aizome e Sakagura A1. Ele disse que preferia preparar no cozimento com caldo, no vapor, como se prepara abalone e polvo. Eu comentei essa técnica, tia-avó do cozimento em baixa temperatura aqui:

http://marisaono.com/delicia/?p=585

Então, juntando tudo ficou assim:

Primeiro, deixei em água fria com sal (bastante sal, quase tão salgado quanto a água do mar) por 12 horas, na geladeira. Depois disso escorri, coloquei em um saco plástico e levei ao congelador. Ficou mais de 24 horas. Coloquei-os em água fervente e cozinhei até descongelar e cozinhar um pouco. Arranquei os “pés”. As vísceras ficaram dentro da concha.

Depois coloquei em uma tigela com kombu-dashi (caldo à base de alga), um pouco de shoyu e sake. Levei essa tigela a uma panela de cozimento no vapor com água fervente. Tampei e baixei o fogo. Cozinhei por cerca de uma hora e meia. Testei com um palito se estava bem macio. Deixei esfriar no caldo.  Depois retirei do caldo e lavei com água e vinagre, para retirar a “gosma”. A textura ficou lembrando clara de ovo cozida. Bem macia e o sabor suave, lembrando mais um kamaboko (massa de peixe cozida).

Para a saladinha que pode ser servida antes de uma refeição japonesa ou como petisco para acompanhar uma bebida, fiz o seguinte: fatie o caracol bem fino e deixei marinando em uma mistura de dashi e vinagre (meio a meio) temperada com um pouco de shoyu. Cortei pepino em fatias finas, salguei levemente, espremi e também deixei marinando na mistura de dashi e vinagre. Na hora de servir, escorri, misturei e despejei um pouco de molho, feito com dashi, vinagre e shoyu.

 

 

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Filé à Wellington Com Alho Negro Bombay

Me lembro de ter assistido a reality show onde um renomado chef esbravejava porque o beef wellington estava fora do ponto. Há umas duas décadas que não faço um. Pensei no assunto, o tal do preciso ponto da carne. Bem, se vai ao forno, vai aquecer. Se vai aquecer, vai cozinhar.  Como sou adepta de um truque bem sujo, usei de um recurso e deu certo. O alho negro combina muito bem com cogumelos. E a massa folhada pode ser comprada pronta ou feita em casa, usando esta receita fácil.

Para 2 porções:

2 filés com cerca de 3 cm de altura

Sal e pimenta do reino

1 cebola pequena

200 gramas de cogumelos portobelo ou champignon

3 a 4 dentes de alho negro

Massa folhada

Tempere os filés com sal e pimenta e leve ao fogo em uma frigideira bem aquecida, untada com óleo até dourar bem de um lado. Vire e doure de outro. Teste com o dedo para conferir o ponto. No Japão dizem que se está mole como o lóbulo da orelha, está mal-passado. Como o da bochecha, está ao ponto e se estiver firme como a ponta do seu nariz, está bem-passado.

Retire do fogo e deixe descansar em uma travessa até esfriar.

Enquanto isso, refogue a cebola em um pouco de manteiga até murchar. Adicione os cogumelos picados e refogue. Tenha calma, os cogumelos tendem a absorver líquido e gordura, mas depois “choram” um caldo. Refogue até quase todo o caldo evaporar. Há quem adicione um pouco de brandy, vinho branco ou conhaque. Fica a seu critério. Tempere com sal e pimenta e passe por um processador de alimentos, até formar uma pasta. Adicione os dentes de alho negro picadinhos e misture.

Enxugue bem os filés com um papel toalha. Pegue 2 pedaços de filme plástico e coloque um pouco da pasta de cogumelos em cada um. Coloque os filés em cima desses montinhos e cubra-os com mais pasta de cogumelos. Embrulhe com o filme plástico e congele. Isso mesmo, deixe no congelador até meia hora ou um pouco mais antes de servir.

Abra a massa folhada e embrulhe cada filé, ainda congelado, com ela. Feche bem as bordas, pincelando com clara de ovo para selar as emendas.

Pincele com gema e, com uma faca afiada, risque a superfície para que a massa possa estufar. Leve ao forno bem quente até dourar e sirva imediatamente.

Se tudo der certo, o filé vai estar no ponto certo e aquecido.

 

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Eu Indico: Vegetais em Vaso, Pastel, Gyoza e Cogumelos

Que tal ter um vaso produzindo pepino?

Ou um pé de berinjela que cabe na varanda do apartamento? No Varejão do Ceagesp, sábado e domingo  pela manhã, com dona Maria Maruyama.

A pastelaria Yoka, premiada pela Veja (rua dos Estudantes 37, Liberdade). É fato: a massa é mais fina que a dos pastéis de feira, crocante e sequinha.

O pastel japonês (tofu, shiitake, kamaboko e cebolinha) vale por uma refeição. Uma pena, porque eu queria experimentar um outro item do menu… O casal que estava do meu lado (o lugar é apertadinho, as mesas são coladas) comeu uma empada e um pastel cada um e a senhorinha riu de mim quando eu me surpreendi pelo peso do pastel. Disse: “Comendo um desses não dá para comer mais nada.” Espertinha…

Sui gyoza congelado. Não sei dizer o nome do lugar, fica na Conselheiro Furtado 226. Tem gyoza de massa grossa, para ser cozida, recheada de porco com nirá ou porco com salsão. O pacote vem com 25 e custou R$12,00. O dono é taiwanês, fala um pouco de português e japonês. Recomendou: coloque em água fervendo, espere voltar a ferver, junte 1 copo de água fria, deixe ferver de novo e coloque outro copo de água fria. “É de porco, tem que cozinhar bem”. Pois bem, experimentei o de salsão. Cozinhei os pasteis ainda congelados. A massa fica “mochiri” (aquela textura que é entre o “al dente” e o pegajoso), o recheio é saboroso e o gyoza fica com um caldinho gostoso dentro. Menos de R$0,50 cada um, uma pechincha.

Não estranhe se ele oferecer estômago cozido, pé de porco, tripa. Eles também vendem porco char-siu e pato assado. O pato parecia bom, mas ficou para outra vez.

Já falei da Akemi e do Paulo, que produzem cogumelos. Esses portobelos peguei lá, a R$3,00 a bandeja.

Comprei também um potão de palmito (1,2 kg) pupunha, por R$25,00. Achei barato. Para quem acha a quantidade exagerada, eles também tem potes menores. E vinagre de caqui. E licor de ume. Pode ter alcachofra, tomatinhos e outras coisas, dependendo da produção local.

 

 

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Jantares Especias do Chef Shinya Koike

 

O produtor cultural Jo Takahashi lança nesta terça-feira o livro  “A Cor do Sabor- A cozinha afetiva de Shin Koike”  na livraria da vila. Para comemorar o lançamento do livro, o chef criou 3 cardápios especiais, somente para o jantar, nas 3 casas nas quais atua.

Para o Aizome (Alameda Fernão Cardim, 39 – (11) 3251 5157), de 1 a 21 de dezembro o chef preparou um cardápio com 7 pratos (R$ 260 por pessoa, incluindo o livro). Após 2 otoshis (o equivalente, talvez, ao couvert), serão servidas duas entradas:  filé de tamboril cozido no vácuo com ovo perfeito japonês e flor de sal com sakura-ebi (camarãozinho japonês seco) e  merluza negra grelhada ao molho de missô e cajá. Em seguida, sashimis e sugaki (ostra ao molho de ponzu) e dois pratos principais:  camarão grelhado com cogumelo shiitake, aspargos e satsuma ague (bolinho de peixe) e filé mignon marinado ao shoyu e yuzu.  A sobremesa é um mousse de café, cacau e creme perfumado com whisky Suntory.

No Sakagura A1 (Rua Jerônimo da Veiga, 74  – (11) 3078-3883) a proposta já é bem diferente. Durante os dias 5,6,7 e 8 de Dezembro, será oferecido a R$220 por pessoa, incluindo o livro, o kit Sakagura (entrada composta por pequenas porções que variam conforme o dia), 3 mini-entradas frias e sashimis.  Os pratos principais são bochecha de boi grelhado com molho de vinho tinto com foie gras, lembrando que o chef iniciou sua carreira em uma cozinha francesa. O segundo é um combinado, composto por um harumaki (rolinho primavera) de rabada e uma rabada cozida à moda Sakagura.

 

No Rangetsu (Avenida Rebouças, 1.394 – (11)3085-6915), durante os dias 12,13 e 14, serão servidos 7 pratos (R$240 por pessoa, incluindo o livro), onde o destaque é o wagyu. A entrada começa com tataki (grelhado levemente) de wagyu com molho de goma-tarê(molho de gergelim). A segunda entrada é um kobu- jime (marinado com alga kombu) de pargo com molho de kagen-zu (cítrico), seguido de sashimi de peixes variados. O chef Shin Koike optou em oferecer dois pratos principais: polvo cozido com legumes  e costela de wagyu assado no forno com molho ponzu. Para finalizar, mini-tirashi (um tipo de sushi, servido em uma tigela) acompanhado de sunomono. A sobremesa é o kanten (gelatina) de maçã verde.

 

 

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Pastrami

Eu disse que as palestras do Prazeres da Mesa Tendência iriam render, não? Pois é, depois de ouvir a explicação da Andrea Kaufmann sobre carnes curadas, fiquei desesperada para comprar sal de cura e fazer um pastrami. E, apesar de ser um prato que exige paciência, o resultado foi muito melhor do que os pastramis que comi no Japão.

Primeiro, escolha a carne. A Andrea recomenda peito e língua, apesar de ter feito pastrami de quase todas as partes do boi. Eu escolhi coxão mole, porque é tenro e porque eu poderia ter uma porção menor que um peito. Usei 1,5 kg de carne, um bifão bem grosso.  Dividi em duas porções.

Depois, pegue água suficiente para cobrir a carne. Coloque um ovo dentro. Vá adicionando sal até o ovo boiar. Ah, isso não funciona se o ovo estiver muito velho, ele vai boiar mesmo sem o sal. Adicione sal de cura, na proporção de 1% do peso da carne, ou seja, eu usei 15 gramas de sal de cura. Adicione pimenta-do-reino, sementes de coentro e grãos de mostarda, grosseiramente triturados. Usei mostarda negra porque ganhei da Andrea Gorenstein. Dissolvido tudo, coloque a carne nessa mistura, se puder coloque um peso em cima e leve à geladeira. Vire diariamente. Quanto mais grossa for a carne, mais tempo vai ter que ficar curando. No caso, foram 4 dias. Uma peça maior pode levar uma semana ou um pouco mais.

Depois desse tempo de cura, a carne ficará bem vermelha por dentro, por conta do sal de cura. Por outro lado, não haverá risco de intoxicação pela toxina do botulismo. Enxague. A Andrea K cozinha em água temperada, eu cozinhei no vapor. Coloquei uma base dentro de uma panela de pressão grande, uma grade e a carne por cima. Com água suficiente no fundo (mas não a ponto de tocar a carne), levei ao fogo e cozinhei no vapor com pressão até a carne ficar macia.

Depois de cozida, passei ainda quente em uma mistura de pimenta-do-reino e mais mostarda e embalei à vácuo. Quem não tem uma embaladora pode passar um filme plástico bem apertado. Deixei descansar na geladeira por mais uns dias. Creio que 2 dias deveriam ser suficientes. Deixei 3.

Poderia ter comido assim mesmo, aquecendo no vapor antes. No entanto, eu queria mostrar uma maneira de defumar em casa. E, bem, eu gosto de carnes defumadas. Qualquer coisa defumada fica melhor.

Desde que publiquei pela primeira vez uma técnica de defumação, tenho recebido mensagens perguntando sobre como construir um defumador, onde comprar serragem e coisas ligadas à defumação caseira. Já aviso que essa técnica se aplica à pequenas porções. Não tente defumar uma peça inteira de bacon. Mas serve para dar aquela linda cor avermelhada, um cheiro característico e ficar mais gostoso. O que não é pouco, não?

Dessa vez usei uma caixa de papelão. Escolhi uma que não tivesse embalado produto de limpeza ou algo com cheiro forte. No caso, eram vinhos. Não, não bebi o vinho, peguei a caixa no supermercado.  E escolha uma caixa alta o suficiente, com cerca de 40 cm de altura.

Palitos de bambu atravessando a caixa servirão de estrado onde a carne ficará acomodada. O fundo foi retirado.

No lugar da serragem, usei cascas de pecan. Claro que comi as nozes. Creiam, elas dão um aroma muito bom. Poderiam ser cascas de nozes. Coloque em uma assadeira pequena. Ela deve ser bem menor que o fundo da caixa de papelão. Leve ao fogo médio, até começar a soltar fumaça.

Coloque a carne sobre o estrado de palitos. Feche a parte de cima da caixa.

Coloque a assadeira com as cascas de pecan direto na boca do fogão (retire a grade do fogão). Acomode a caixa sobre ela. Tenha cuidado para que o papelão não toque a assadeira, não fique perto demais do fogo. Dependendo do fogão, vai ter que regular a chama: muito fraca não vai queimar as cascas e não vai soltar fumaça. Alta demais, pode queimar o papelão. É uma questão de domar o fogo. Se as dimensões estiverem corretas, a caixa de papelão irá ficar um pouco quente, mas não irá pegar fogo.

Se tudo funcionar direito, 20 minutos de defumação para cada lado serão suficientes. Ela ficará quente, com uma cor castanho-avermelhada e cheirosa.

Jantei um sanduíche com folhas e pepino da horta, temperados com vinagre e azeite. Ficou ótimo. Mas poderia ter comido com uma salada simples.

O que não for consumido logo, pode ser congelado. Apesar de todo o processo,  não creio que aguente vários dias na geladeira.

E vale o trabalho? Bem, eu acho que vale. Aliás, não achei tão trabalhoso e sim demorado. A carne ganha sabor, muda a textura, aroma.

PS: A Andrea K coloca um pouco de açúcar. Eu não usei, esquecimento. O sal de cura comprei no mercado de Pinheiros. Não me lembro em qual loja, foi no térreo, vendiam queijos e embutidos. O sal estava perto do caixa e custou R$9,00. Também tem no box do G Frederico, no Mercadão. Um quilo rende horrores.  E da próxima vez vou ver se encontro uma carne mais marmorizada, acho que fica boa…

 

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Ají de Gallina (Frango Cremoso Peruano)

O meu primeiro contato com a cozinha peruana foi há muitos anos e não foi no Peru. Foi no Japão. Em Hamamatsu (Shizuoka) haviam muitos brasileiros e peruanos. Não demorou para que surgissem lojas vendendo produtos dos dois países e restaurantes. Fui levada a um restaurante – hoje não saberia dizer em que bairro ficava – que funcionava precariamente (ou melhor, desconfio que era clandestino) em um apartamento. Uma coisa que lembrei outro dia é que constava um tipo de arroz frito (yakimeshi) e macarrão frito (yakisoba). Tenho a impressão que os peruanos são mais bem-resolvidos que nós no que se refere à comida dos imigrantes. Por aqui, apesar de serem populares, esses pratos ainda são chamados de comida “japonesa” ou “chinesa”, em vez de serem oferecidos como comida adaptada, nikkei.

Hoje fiquei com vontade de comer esse frango com molho cremoso. Dá um pouco de trabalho, mas não é difícil. O ají amarillo é uma pimenta amarela, só encontrei dela em pó, na Bombay. Se não encontrar, substitua por um pouco de cúrcuma (açafrão-da-terra) e pimenta vermelha. Não fica a mesma coisa mas também não fica ruim.

2 coxas e sobre-coxas de frango, sem pele (cerca de 600 gramas) ou  500 gramas de peito de frango

1 cebola média picada

1 dente de alho moído

Sal e pimenta-do-reino moído

1 e 1/2 pão francês amanhecido, sem casca

Ají Amarillo (pimenta amarela peruana), noz-moscada em pó

3 colheres de sopa de leite em pó

Um pouco de leite

50 gramas de queijo parmesão ralado

1/3 xícara de pecans picadas

Azeite

Batatas cozidas, cortadas em rocelas

Ovos cozidos, cortados em quartos

Azeitonas

Refogue o alho em um pouco de óleo. Adicione a cebola, deixe murchar um pouco, adicione o frango cortado pelas juntas. Refogue, tempere com sal e pimenta e depois cubra com água. Cozinhe até ficar macio. Deixe esfriar dentro do caldo. Desfie. Eu prefiro não desfiar muito fino. Reserve o caldo.

Meça o caldo. Se necessário, complete com água até obter 2 xícaras. Hidrate o pão nesse caldo. Passe pelo liquidificador. Leve ao fogo, mexendo sempre, até engrossar. Adicione a pimenta (ou, caso não encontre, 1 colher de chá bem cheia de cúrcuma em pó e pimenta vermelha à gosto) e a noz-moscada.

Sempre mexendo para não pegar no fundo, adicione o leite em pó diluído em um pouco de leite frio. Confira o sal. Adicione o frango desfiado, cozinhe em fogo brando mexendo de vez em quando até que o frango esteja bem aquecido. Se ficar espesso demais, adicione um pouco mais de leite. Junte o queijo e as pecans, misture, regue com um fio de azeite e desligue o fogo.

Sirva com batatas cozidas, ovos cozidos e algumas azeitonas.  Acompanha arroz.

PS: Esta é a versão que provei. Certamente existem versões, lembro de terem dito que não se usava leite evaporado, nem creme, só leite. O leite em pó entra para substituir o leite evaporado, que não encontro por aqui. Já vi versões com creme de leite. Outros dizem que não vai pecans nem nozes. A receita alimenta 4 pessoas. A cor está estranha, sim, na verdade é um amarelo mais vivo. Mas fotos tiradas com luz artificial geralmente não ficam tão boas e ainda parece que não consegui configurar minha câmera direito.

Outro prato com ají amarillo que fiz foi a Causa Relleña:

http://marisaono.com/delicia/?p=3315

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Manteiga de Ervas e Alho Negro

Uma manteiga de ervas serve para dar um sabor extra e, claro, untuosidade em uma carne magra. É muito fácil de fazer. Nesta, combinei salsa e estragão com alho negro. Usei ervas liofilizadas porque como não pretendia usar toda a manteiga de uma vez, ervas secas são a melhor opção, já que as frescas tendem a mudar de cor, textura e até aroma depois de congeladas.

Para manteiga suficiente para 6 porções:

50 gramas de manteiga

2 colheres de chá de salsa desidratada (liofilizada)

1 colher de chá de estragão desidratado (liofilizado)

3 dentes de alho negro picado

50 gramas de manteiga

Derreta 50 gramas de manteiga em fogo baixo. Com uma colher, com cuidado, retire a espuma que se forma na superfície. Adicione a salsa e o estragão e deixe por cerca de 30 segundos. Desligue o fogo. Espere esfriar, adicione o alho negro picado e a manteiga restante, formando uma pasta.

Coloque em um filme plástico, enrole e dê um nó das duas pontas, formando um rolinho bem apertado. Leve à geladeira até a hora de usar.

Corte uma fatia e sirva sobre carne, frango ou peixe grelhado. O que não for utilizado, pode ser congelado.

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Que Marravilha!

Para minha surpresa, o chef Claude Troisgros apresentou em seu programa uma receita de filé de linguado com pirão de tucupi e alho negro. Isso poucos dias depois de eu ter conversado com o filho dele , no Mesa Tendências. Feliz coincidência.

Linguado com Pirão de Tucupi, Caviar Frito e Alho Negro

 

 

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Blanc Manger de Castanha do Brasil Com Farofa e Chocolate da Ilha de Combu

O nome é comprido. Talvez ficasse melhor se fosse “Manjar Branco Amazônico”, só que eu tenho uma particular bronca de pratos com nomes que pouco dizem. Não sei se já comentei por aqui que quando encontro com uma “Supresa de Abacaxi” sinto arrepios, esperando pelo pior.

A sobremesa surgiu porque encantei-me com dois produtos que vieram do Norte do Brasil: a castanha do Brasil (ou do Pará) crua, que chegou até mim pelas mãos da Antonia Padvaiskas, que também me apresentou o cará roxo, o bacuri e um monte de outras coisas que eu jamais havia visto. A castanha que costumamos comer por aqui é torrada. A crua não aguenta tantos dias, precisa ficar em água limpa, na geladeira, como o coco descascado. E como o coco, dá para tirar um leite doce, delicado. Por si só é uma maravilha, crocante, leitosa.

E o outro ingrediente é o chocolate 100% cacau da ilha do Combu, que ganhei do Thiago Castanho. É amargo, com uma textura que lembra uma castanha e um aroma tão bom que fiquei tentada em deixar em uma gaveta de roupas. No armário onde guardo chás e outras coisas, não poderia ficar.

E, de estalo, resolvi tirar o leite da castanha, fazer uma farofa com o bagaço e juntar umas pedrinhas de chocolate: doce, amargo, macio e o crocante. Se não encontrar as castanhas cruas, pode ser feito com leite de amêndoas ou de coco.

Peguei 350 gramas de castanhas e triturei com 500 ml de leite. Levei ao fogo, mexendo sempre, até ferver. Deixei amornar um pouco e espremi em um pano, retirando todo leite. Reservei também o bagaço.

200 ml de leite de castanhas

200 ml de leite

60 gramas de açúcar

50 ml de leite

5 gramas de gelatina em pó, sem cor e sem sabor

Levei ao fogo os dois leites e o açúcar, até quase ferver. Enquanto isso, polvilhei a gelatina sobre os 50 ml de leite frio e deixei hidratar. Adicionei ao leite quente, desliguei o fogo e misturei até dissolver bem. Dividi em 6 potinhos.

Do bagaço, peguei 50 gramas e tostei em uma frigideira com revestimento anti-aderente, sem gordura com 20 gramas de açúcar, mexendo sempre. Retirei para um prato e deixei esfriar. Pode ser guardado em um pote bem fechado por uns poucos dias.

Na hora de servir, misturei à farofa um pouco de chocolate picado. Na verdade, servi no pote mesmo, cobrindo o manjar com farofa. Sim, as porções são pequenas.

 

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